A continuidade da atividade econômica do País, com recuperação do consumo interno e das exportações, pode trazer novos 2 milhões de postos de trabalho em 2005. A expectativa é do economista Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), ex-secretário municipal do Trabalho de São Paulo e um dos maiores estudiosos do assunto do Brasil.
No entanto, diz o professor, alguns obstáculos podem impedir que este ano seja tão promissor para os trabalhadores como foi 2004. A elevação da taxa básica de juros (Selic) é um deles, e o cenário internacional desfavorável, outro. “Os juros altos freiam os investimentos e, portanto, as novas contratações. Já a economia mundial e a dos Estados Unidos não parecem tão estáveis”, explica Pochmann.
Segundo o especialista, as empresas já fizeram todas as contratações para repor as vagas em aberto no ano passado e, de agora em diante, os postos de trabalho oferecidos serão novos, ligados a tecnologia e crescimento dos setores. “Digo que os investimentos estão atrelados às novas oportunidades porque a demanda por vagas menos qualificadas foi preenchida no último ano”, diz.
O gerente de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Cimar Pereira, tem uma opinião parecida, mas afirma que ainda não dá para prever como o ano irá se comportar em termos de oportunidades de trabalho. “São necessários mais dois ou três meses para verificar a trajetória que este ano seguirá. Assim como aconteceu ao longo de 2004, a taxa de desemprego começou a cair somente a partir do mês de maio”, explica Pereira.
Janeiro – O instituto divulgou na última sexta-feira as taxas de emprego e desemprego do mês de janeiro nas principais capitais do País. De acordo com a pesquisa, o índice de desocupação voltou a subir e chegou a 10,2% da população economicamente ativa. Em dezembro foi de 9,6%.
No entanto, o aumento do número de pessoas sem uma colocação é cíclico. O desemprego tende a cair em finais de ano, com a elevação das contratações temporárias e com os feriados – que reduzem o número de profissionais em busca de emprego. Com o início do novo ano, as pessoas voltam a procurar trabalho e as vagas temporárias são fechadas. Em relação a janeiro de 2004, houve queda de 1,5% na taxa de desocupação.
A pesquisa do IBGE revela, ainda, que a maior parcela dos desempregados continua sendo composta por mulheres: 56,9% em janeiro. Entre os que procuram trabalho, 21% estavam em busca da primeira colocação. E, entre as atividades, a maior queda na comparação com dezembro foi registrada na construção civil (de 4,5%).
Renda – Em relação à renda, a expectativa é que ela cresça 2% sobre o ano passado, caso a inflação fique dentro da meta do governo federal e não ultrapasse os 6%. “A recuperação da renda de 2004 (que ficou em torno de 5%, dependendo do setor) provoca o crescimento de alguns ramos de atividade, como calçados, vestuário, transporte e beleza, que, provavelmente, gerarão novos empregos”, explica o professor e economista Marcio Pochmann.
Em janeiro, segundo o IBGE, houve uma expansão de renda de 2,2% em relação a dezembro, e do mesmo valor em relação a janeiro de 2004. O salário médio no País foi de R$ 919,80.
Fernanda Pressinott