Embaixadora dos EUA ataca postura do Brasil
A estratégia do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, na área comercial, segundo a embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Donna Hrinak, pode ser em parte responsabilizada pelo fracasso nas negociações da Organização Mundial do Comércio, em Cancún, há um mês. E também pelo atraso que vier a surgir nas negociações para a implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
– Há diferenças entre o Brasil e os Estados Unidos. Mas isso não impede que se trabalhe em torno de uma agenda comum. Os brasileiros que estão nas ruas querem emprego e nem sabem o que é agenda hemisférica – afirmou a embaixadora americana.
Ela lembrou que a próxima reunião da Alca será em Miami, em novembro, e que há uma grande expectativa em torno dos resultados.
O discurso foi feito para uma seleta platéia de 40 empresários e banqueiros. O Fundo foi um dos primeiros, com recursos estrangeiros, a investir em empresas brasileiras através da bolsa de valores.
Na platéia, estavam executivos financeiros estrangeiros e alguns convidados brasileiros, como o presidente da Comissão de Valores Mobiliários, Luiz Leonardo Cantidiano, e o ex-presidente do BNDES Eleazar de Carvalho.
Donna falou durante cerca de 15 minutos e ao final respondeu à algumas perguntas dos convidados. A embaixadora começou elogiando o governo Lula, lembrando que há um ano era época do primeiro turno das eleições.
– Desde o início percebemos que este governo é um time. Trabalham juntos há muitos anos. São muitos unidos e têm um discurso uniforme.
A embaixadora, que deixará o cargo em março de 2004, citou que o mercado financeiro previa cenários negativos sobre o governo do PT. Mas que esses boletins, felizmente, acabaram não se confirmando.
Preocupada com os sucessivos saldos comerciais recordes, feitos com base no aumento das exportações, ela frisou que é preciso pensar no comércio como uma via de duas mãos.
– O Brasil precisa exportar e importar. Deve aumentar sua participação no comércio global, que é pequena. Não é possível exportar muito sem aumentar as importações.
Sobre a reunião técnica da Alca, em Trinidad Tobago, há uma semana, a embaixadora desaprovou a postura do governo brasileiro. Neste encontro, o Brasil demonstrou que rejeita o que chama de “Alca teológica”, em uma alusão ao desejo dos EUA de discutir na Alca todos os temas.
Durante o almoço, foram apresentados também os últimos números do Fundo Brasil. Segundo Paul Rogers, administrador do fundo, “o Brasil é um ótimo investimento, com alto retorno”. O Fundo Brasil recebeu investimentos de US$ 200 milhões em 15 anos, pagou US$ 238 milhões em dividendos e investe nas principais empresas nacionais.
– As empresas brasileiras são ótimas. Mas destacaria como importante a definição sobre marco regulatório no próximo ano – disse Rogers.
Sônia Araripe/João Paulo Engelbrecht