Economistas apóiam intervenção do BC no câmbio
Diante da recente valorização do real, que ameaça comprometer o desempenho da balança comercial brasileira neste ano, a defesa da intervenção do Banco Central na questão cambial ganha peso no mercado.
Embora economistas ouvidos pela Folha tenham interpretações diferentes sobre qual a melhor receita, todos argumentam que o BC deve promover alguma intervenção no câmbio.
Segundo cânones clássicos da economia, há quatro maneiras de intervir: controlar a entrada de capitais de curto prazo, cortar os juros, reduzir a dívida pública indexada ao dólar ou o Tesouro comprar mais dólares.
Para Gustavo Loyola, ex-presidente do BC, como não há indícios de que haverá um fluxo forte de entrada de capitais estrangeiros nos próximos meses, o câmbio tende ao auto-ajuste. Esse auto-ajuste do mercado levaria a cotação da moeda a ficar entre R$ 3 e R$ 3,10. Na sua avaliação, o dólar abaixo de R$ 3 não deve se sustentar a longo prazo, já que o principal pilar dessa cotação são ganhos de arbitragem de curto prazo.
Apesar de defender a livre flutuação, ele faz ressalvas: “O BC não deve ser totalmente passivo diante das flutuações do real, mas seria um erro querer fixar um piso para o dólar só para defender o setor exportador. Reduzir a taxa de juros, se a inflação der sinais de que está em queda, seria um bom mecanismo para regular o câmbio”, disse.
Quanto à possibilidade de intervenção via compra da moeda americana, Loyola é taxativo. “O BC não deve comprar dólar. Devemos evitar o exagero. O câmbio ainda está atrativo para as exportações. A valorização recente do real não foi forte o suficiente para perder os ganhos acumulados pelos exportadores desde a desvalorização de 1999.”
Já para o economista Roberto Gianetti da Fonseca, o mercado é incapaz de equilibrar o câmbio. “O mercado não leva ao equilíbrio. Ao contrário, ele leva à sub ou sobrevalorização e é sujeito também às expectativas”, declarou.
O mecanismo proposto por Marcos Fernandes, da Escola de Economia da FGV-SP, é aproveitar a valorização do real para reduzir o peso da dívida pública indexada ao dólar. Uma intervenção mais ativa não é descartada.
“Um câmbio abaixo de R$ 3 preocupa. Se ele se mantiver assim, a médio prazo, o governo terá que intervir. Comprando ou vendendo dólares”, avaliou Fernandes. A adoção de uma “flutuação suja” (intervenção governamental para conter oscilações bruscas) também poderia ser utilizada. Mas, para que isso seja factível, os fundamentos macroeconômicos brasileiros devem estar sólidos. “O governo vai ter que aprofundar o superávit fiscal e gerir melhor os recursos públicos.”
O economista-chefe do Unibanco, Alexandre Schwartzman, é menos enfático na questão da intervenção. “Já superamos o mercantilismo. Uma valorização excessiva do real é ruim para a balança comercial, mas ela, em si, é um indicador muito pobre para medir o desempenho de uma economia”, diz.
A volatilidade do real é, para ele, o principal motivo de preocupação. “Para conter essa volatilidade, o BC deveria reduzir as dívidas indexadas em dólar”, avalia.
Corte nos juros
Se, por um lado, a apreciação do câmbio inquieta o setor exportador, ela pode ter um efeito positivo e suavizar a taxa de inflação. “Não temos dúvida de que a inflação segue uma tendência de queda, ainda que lentamente”, diz Schwartzman. Se esse quadro for mantido, o economista-chefe do Unibanco, prevê que em junho o BC pode cortar a taxa de juros até meio ponto percentual.
Fernandes, da FGV, também corrobora essa previsão. Para ele, já há bons indicadores de que a inflação está em queda. “O impacto da redução do preço da gasolina ajudará nesse processo. Até o final deste semestre, o BC deve reduzir a taxa básica de juros.”
Cíntia Cardoso