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Economia cresce. Medo do futuro, também

Guarulhos, 29 de março de 2005

A economia continuou crescendo no primeiro trimestre deste ano. Mas aumentou o temor entre as classes produtoras de que a elevação dos juros poderá reduzir as vendas internas no varejo e a valorização do real frente ao dólar prejudicar nossas exportações ao longo de 2005.

Essa conclusão foi partilhada por líderes empresariais de vários setores na quinta-feira, 24, durante reunião de conjuntura da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Para eles, o mercado interno continua indo bem, basicamente, por duas razões. A primeira é o crédito consignado em folha de pagamento para aposentados e funcionários públicos, que continua aquecido.

Calcula-se que a modalidade já tenha injetado mais de R$ 13,5 bilhões na economia. Isso, argumentou um economista, pode estar anulando o esforço do Banco Central (BC) de elevar a taxa básica de juros (Selic), para inibir o consumo e a inflação. Segundo os dados da ACSP, as vendas no varejo cresceram entre 6% e 7% neste primeiro trimestre.

Também contribuiu para esse desempenho o fato das lojas ainda não terem repassado para seus preços as elevações na Selic e mantido inalterados os prazos do crediário ao consumidor. “Mas ninguém jurou que não fará esse repasse”, acrescentou o economista, preocupado com as expectativas pessimistas projetadas a partir da hipótese de elevação, ou mesmo com a manutenção dos juros pelo Banco Central

Exemplos – No balanço dos indicadores, há perspectiva de queda na inflação, de crédito se expandindo – sobretudo para a pessoa física – e do governo tentando manter a austeridade monetária e fiscal. A inadimplência continua cedendo neste primeiro trimestre e o nível de atividade da produção está “satisfatório”.

O balanço do trimestre para o setor de móveis e colchões é positivo. “O crediário continua puxando nossas vendas”, disse um empresário do ramo. Já a heterogeneidade do segmento têxtil não permite generalizações: as atividades ligadas à exportação vão bem, mas registrando perdas por causa do real valorizado. “Há uma discreta melhoria no mercado interno, mas não se pode dizer que seja duradoura”, ponderou outro empresário.

Em queda – No setor farmacêutico, a enorme concorrência, nem sempre leal, e a ação do governo com as “farmácias populares” levou a uma perda de 20% nas vendas no trimestre. “A indústria teve uma redução nos pedidos”, garante um integrante do setor.

Já a indústria de alumínio projeta um crescimento de 8% este ano. A expansão de 11% em 2004 foi considerado apenas uma “recuperação”, que trouxe o nível de produção para patamares de 2001. O nível de ocupação gira ao redor dos 80%. “E 20% desse total devem-se às exportações, que estão ameaçadas pela perda de competitividade causada pela valorização do real”, esclareceu um empresário.

Peças – O segmento de autopeças reclama da desnacionalização. Cerca de 70% do mercado está ocupado por grandes empresas multinacionais, lamentou um representante do setor. Ele lembrou que a indústria automobilística deverá crescer 10% este ano, que as fornecedoras de autopeças já criaram o terceiro turno de trabalho, “mas não têm projetos de investimentos (para ampliar a produção)”.

Finalmente, os dados oficiais apontam para uma perda de R$ 5 bilhões na renda do agronegócio, com a quebra da safra este ano. No entanto, especialistas do setor acreditam que essa perda poderá chegar aos R$ 10 bilhões. A previsão de até 10% na produção de soja dos Estados Unidos evitará uma pressão nos preços mundiais dessa commoditie.

Sergio Leopoldo Rodrigues