Desemprego é recorde
O desemprego na Grande São Paulo bateu recorde histórico em abril. De acordo com a pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) e Fundação Seade, a taxa chegou a 20,4%, a mais alta desde que a pesquisa começou a ser feita, em 1985. Significa que, de cada cinco trabalhadores, um não consegue um lugar no mercado, o que forma um contingente de 1,904 milhão de desempregados na maior região metropolitana do país.
Pico anterior, de 19,3%, ocorreu nos meses de abril e maio de 1999, ano em que a economia brasileira foi sacudida pela desvalorização do real. Todas as dez maiores taxas de desemprego registradas em 17 anos da pesquisa ocorreram em 1999 ou neste ano. “Desde 1996, o índice vem crescendo gradativamente como uma bola de neve. Houve um soluço de melhora em 2000, mas a situação voltou a piorar no fim do ano passado e continua avançando”, diz o economista Sérgio Mendonça, diretor-técnico do Dieese.
Ele argumenta que o desemprego está seguindo seu comportamento normal, que é de crescer até abril. O que está maior é a intensidade. “A partir de agora deve haver uma estabilização e no segundo semestre, a taxa deve ceder um pouco”, prevê.
A principal causa da explosão do desemprego foi o aumento do número de pessoas que passaram a procurar uma vaga. Só em abril, foram 97 mil pessoas a mais do que em março disputando o mercado, contra apenas 31 mil novos postos abertos. Como a taxa é a relação entre o número de desempregados e a força de trabalho total – chamada População Economicamente Ativa ou PEA -, quanto mais gente na briga, maior a pressão sobre a taxa.
O aumento da PEA também impulsionou o índice de desemprego calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para as seis maiores regiões metropolitanas do país. A taxa do IBGE – que usa metodologia diferente do Dieese – ficou em 7,8% em abril e foi a mais alta em 24 meses.
“Esse aumento no número de pessoas procurando emprego está sendo incentivado, sobretudo pela entrada de mulheres e jovens. Isso mostra que pessoas que até então não trabalhavam estão sendo empurradas para o mercado, numa tentativa de compensar a queda na renda. Isso porque, quando os salários caem, é preciso que mais gente da família trabalhe para garantir o sustento de todos”, analisa Mendonça.
Em março, o rendimento médio real dos trabalhadores na Região Metropolitana de São Paulo caiu pelo terceiro mês consecutivo. Na comparação com o mês anterior, a perda foi de 2,8%. Já em relação a março do ano passado, os salários perderam 11,2% do seu poder de compra. Em valores nominais – já descontado o efeito da inflação – é como se os trabalhadores paulistas recebessem em média R$ 909 em março de 2001 e R$ 807 agora. Para quem tem carteira assinada, a perda foi de 1% em um mês, contra 3,7% dos que estão na informalidade. A renda dos autônomos pouco variou: 0,3%.
Nice de Paula e Jesuan Xavier