Depois da crise de energia, têxteis vão otimistas à Fenatec
Empresários do setor têxtil estão mais otimistas do que o habitual em relação à 46ª edição da Feira Internacional da Indústria Têxtil (Fenatec), que ocorre entre amanhã e quinta-feira, com a apresentação dos tecidos de verão – estação responsável por 80% da produção de roupas pelas confecções. As tecelagens esperam superar a retração do ano passado, marcado por racionamento, alta do dólar e crise argentina, fatores que juntos fizeram com que a capacidade instalada das empresas diminuísse.
A Marles, empresa do Bom Retiro com 220 funcionários, espera aumentar seu faturamento, de R$ 20 milhões em 2001, em 20% a partir da participação na feira. A tecelagem produz 120 toneladas mensais – dos quais 6% são exportados para o Canadá, Portugal e Espanha.
A empresa, que desde 1998 vinha aumentando sua capacidade instalada em 10% ao ano, com importação dos mais modernos equipamentos, foi surpreendida pelo racionamento de energia, o que inviabilizou qualquer incremento. “Brecamos todo o fluxo de investimento em maquinário e destinamos R$ 350 mil, metade do que gastávamos em máquinas ao ano, em geradores', conta seu diretor comercial, Alexandre Korich.
Até o Grupo Rosset, um dos mais importantes da América Latina, foi atingido. “Houve retração de 15%', diz Aron Rosset. Com um parque industrial de 90 mil metros quadrados, sede no Bom Retiro, 3,8 mil funcionários e fabricação de 12 mil toneladas de tecidos compostos mensais, Rosset planeja retomar as exportações, prejudicadas com o Plano Real. “Em 2001, a utilização de nossa capacidade diminuiu 12%', faz coro Alessandro Pascolato, presidente da Santaconstancia, tecelagem que produz 400 toneladas mensais.
O consultor de empresas Roberto Chadad, presidente da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), que congrega as confecções, estima que a retração do setor têxtil tenha chegado a 6%. “Eles tiveram de diminuir a produção porque nós não estávamos comprando', avalia Chadad. É a velha história: se o varejo tranca, toda a cadeia tranca.
'O racionamento não estava em nosso budget e foi preciso tirar dinheiro de algum lugar; nessas horas, a verba ou sai do marketing ou do maquinário', conta a gerente de marketing da Doutex, Renata Ucha Campos. A solução encontrada pela empresa, especializada em malha circular e de urdume, instalada na zona norte da capital, foi a transformação das máquinas que consumiam mais energia, mais precisamente as de acabamento e de tingimento, de eletricidade para gás.
A Doutex não revela de quanto foi a retração, mas precisou reduzir preço para manter o volume e faturou menos do que em 2000. A expectativa da empresa, que trabalha com matérias-primas importadas, é tomar fôlego com o dólar mais baixo. “Esperamos crescer mais de 25% este ano e, de preferência, com produtos de maior valor agregado', diz Renata. A empresa foge de produtos de commodity e investe em tecidos tecnológicos, caso do cloroban, resistente ao cloro, que apresentará na Fenatec. Com foco no mercado interno, a Doutex, conseguiu manter o nível das exportações.
A situação de São Paulo é diferente da do Rio, tradicional pólo de produção de algodão e de tecidos planos, cuja capacidade conseguiu saltar dos 50% para quase 80%. Com isso, as empresas fluminenses continuaram tirando proveito do aumento da competitividade desde que o dólar passou a flutuar, em 1999.
(Fabiana Gitsio – Gazeta Grande São Paulo)