César Maia defende cruzada contra o tráfico
O próximo presidente da República deverá assumir o comando da segurança nacional. Além de comandar o setor, deverá dividir as tarefas de combate ao tráfico de drogas e armas – que andam juntos – com as guardas nacionais de países vizinhos, os governos estaduais e municipais. A articulação foi defendida na segunda-feira, 28, pelo ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (DEM), durante palestra no Conselho Político e Social (COPS), a Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Maia: combate ao narcotráfico é fundamental
Na avaliação de Maia, a política governamental de encarregar a Polícia Federal e as Forças Armadas no combate ao crime organizado e na fiscalização das fronteiras é insuficiente. Com a experiência de administrar por três vezes o Rio, cidade onde o tráfico de drogas é uma ameaça à segurança da população, o democrata afirma que esta “é uma decisão de ordem política”.
“O Brasil é um país continental e os traficantes cruzam as fronteiras com drogas e armas porque o policiamento é deficiente”, justificou.
Estados e municípios até recebem recursos, porém são insuficientes, pois o combate ao crime organizado é complexo, disse Maia. O Rio é um exemplo. “O governo federal só trabalha em ações de inteligência de sua iniciativa. Isso não basta. Ele precisa repassar aos estados tecnologia de ponta e requalificar as policias estaduais”, defendeu o ex-prefeito.
Estados – Durante a palestra, Maia afirmou que o tráfico e a venda de drogas são os principais responsáveis pelo aumento da violência urbana.
Segundo o ex-prefeito, o problema começou na década de 80, quando os regimes militares foram substituídos por regimes civis na América Latina e “os governos reduziram os recursos na área de segurança e alocaram no social”. No Brasil, cada estado tem a sua realidade, explicou. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pernambuco destacam-se negativamente porque estão na rota internacional de entrada e saída de drogas, possuem aeroportos e portos e têm um mercado interno de consumidores, que ele chama de “narcovarejo”, principalmente de maconha e cocaína.
César Maia comparou o Rio de Janeiro com São Paulo. Segundo estatísticas de 2008 das duas polícias, analisadas por ele, o Rio de Janeiro registrou 35,7% de mortes por crimes dolosos (com intenção de matar) por 100 mil habitantes, e São Paulo 10,69%.
Na avaliação do ex-prefeito, o fato de o PCC (Primeiro Comando da Capital) dominar o tráfico em São Paulo ajudou os paulistas. No Rio, facções disputam o controle de ponto de venda de drogas à bala, causando a morte de traficantes – principalmente jovens – e de moradores de favelas.
César Maia acrescentou que o tráfico se espalhou no território nacional e, com ele, a violência em lugares tranquilos. O exemplo citado foi o Nordeste. O motivo seria a proximidade com a África, onde Guiné Bissau substitui Portugal e Espanha como porta de entrada da cocaína na Europa.
Ao final, Maia reforçou a necessidade de incentivar políticas de prevenção, com investimentos em educação e esporte, que beneficiariam os jovens, alvo de traficantes, e a integração das polícias civil e militar.
O presidente da ACSP, Alencar Burti, debateu com o ex-prefeito os efeitos do crescimento do crime organizado e a mobilização da sociedade organizada para preservar as instituições do País. “Apesar da complexidade do tema, a palestra foi elucidativa e importante porque tem muita influência na vida nacional”, declarou Burti.