A crise política deflagrada pelo caso Waldomiro Diniz e reforçada por indicadores econômicos desfavoráveis aumentou o risco-país, interrompeu captações e reduziu a popularidade do governo, entre outros reflexos. Segundo economistas, no entanto, ainda não houve comprometimento dos fundamentos econômicos do país em função dos problemas políticos. Os danos à economia podem se concretizar, segundo os analistas, se o governo demorar demais para contornar a situação.
– Uma crise política traz incerteza para os investidores e mexe com suas expectativas. O atual tiroteio no governo gera ansiedade no curto prazo, mas ainda não afeta os fundamentos econômicos. O problema é se essa crise durar por muito tempo – disse Odair Abate, diretor da administradora de recursos Proventus Invest.
Abate lembra de períodos semelhantes em outros governos, como no de Fernando Henrique Cardoso. Na época, o conservadorismo de Pedro Malan nem sempre se harmonizava com o tom desenvolvimentista de José Serra. A diferença, diz, é que esses embates eram resolvidos mais rapidamente, e logo o discurso voltava à unidade.
O economista acredita que o crescimento econômico e a geração de empregos é o principal desafio do governo no âmbito econômico. Com o aquecimento da economia aquém do sonhado, o otimismo da população com o primeiro ano do governo dá lugar à impaciência com as altas taxas de desemprego. Barreiras no âmbito político podem, segundo ele, tornar inatingíveis os desafios do governo.
O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, considera os fundamentos econômicos do país bastante positivos, apesar de reconhecer o problema das taxas de desemprego recordes. Ele ressalta os recordes da balança comercial, que vem conquistando novos mercados e compensando a ausência das captações externas. Também cita a desaceleração dos índices de inflação, depois de uma bolha em janeiro e fevereiro.
– Pelo lado econômico, vemos um ambiente melhor para a bolsa, juros e também para o câmbio. O ambiente político afeta as expectativas do investidor, assim como o terrorismo, mas não vejo essa chance de a crise política contaminar os fundamentos econômicos. Acredito que o bom senso vai prevalecer – disse Rosa.
Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora Senior, diz que a crise política ainda não alterou aspectos conjunturais do país, mas que essa possibilidade existe. Para ele, não basta contornar a crise política e reduzir juros. Ele defende a adoção de medidas político-econômicas para estimular reformas, crédito e exportação.
– É preciso que se estabeleça outros mecanismos para incentivar a economia, além da redução de juros. Um dos problemas do governo até agora foi a improvisação nos programas voltados ao crescimento da economia. Isso tem sido um prato cheio para a oposição – disse Bandeira.
Para o consultor Paulo Schenberg, a forte volatilidade enfrentada no mercado financeiro desde o agravamento da crise política é passageira. Para ele, o mercado vem se alimentando da ansiedade da população na espera por resultados concretos na economia.
Schenberg afirma que os fundamentos econômicos apontam para o crescimento, mas têm um tempo para mostrar todo o seu potencial. Segundo ele, as últimas reduções de juros ainda não produziram todo o seu efeito na economia. Especialista em bolsa de valores, o consultor recomenda ações de setores ligados ao consumo internacional e ao crescimento da economia. Segundo ele, os setores de aço, máquinas, telefonia e energia, por exemplo, têm bom potencial de valorização.
– Se nada muito grave acontecer, acho difícil o mercado de ações não voltar a liderar o ranking das aplicações este ano, acompanhando a tendência de crescimento da economia – disse Schenberg.
Paula Dias