Os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006, que teve alta de 2,9%, mostram uma mudança estrutural na indústria. Pelo segundo ano seguido, a indústria de transformação cresce muito abaixo da média da economia e do setor de recursos naturais.
Esse movimento está ligado à valorização do real entre 2005 e 2006, avalia o economista Carlos Frederico Rocha, do Grupo de Indústria do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Esse processo se torna mais evidente nos últimos dois anos. Está havendo uma especialização da indústria ligada aos recursos naturais”, diz o professor, citando áreas de mineração e petróleo.
A indústria de transformação cresceu 1,3% em 2005 e 1,9% em 2006, média de 1,6% ao ano. Essa taxa representa um quinto da velocidade média de expansão do PIB do setor extrativo no período.
Para Rocha, esses dados expressam uma mudança preocupante, porque o setor manufatureiro é altamente empregador e tem efeito multiplicador no resto da cadeia produtiva, superior ao da indústria extrativa. Segundo ele, as maiores contratações nesse segmento são apenas nos investimentos, como construção de plataformas.
Concorrência – A gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, concorda que o dólar fraco e a maior concorrência de produtos importados afetam o setor. Dados levantados pela Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex) confirmam que os importados estão tirando espaço da fabricação nacional. Enquanto a produção de bens de consumo duráveis no País cresce 5,76%, a importação sobe 73,5%.
Nos setores de bens de capital e matérias-primas industriais (bens intermediários), o volume de importação também avança mais que a produção física local. Em 2006 a indústria de transformação cresceu menos que a extrativa (5,6%), construção (4,5%) e serviços industriais de utilidade pública (3,3%). A fraca expansão do setor limitou o crescimento industrial a 3%.