Os primeiros sinais de que o ritmo do crescimento da economia está em desaceleração foram sentidos com muita clareza pelas 274 empresas ouvidas na última rodada da Pesquisa DCI. Depois de oito meses consecutivos em que mais de 80% das respostas indicavam uma demanda em ascensão, apenas 73,9% apontaram que no mês de março deste ano suas vendas foram maiores. Embora ainda esteja num patamar elevado, esse número chama a atenção se comparado com as respostas do mês anterior, que mostraram nada menos do que 94,4% das empresas anunciando terem vendido mais.
O mais preocupante resultado da pesquisa foi comprovar que as medidas de política econômica do governo federal, que elevou os juros básicos para desacelerar a economia e evitar um recrudescimento inflacionário, fizeram efeito com muita rapidez.
Menos alarmante é o fato de que a maior parte dessa diferença migrou para uma posição neutra: 20,4% responderam ter tido em março uma demanda igual à que vinham tendo, enquanto em fevereiro apenas 3,7% haviam dado essa resposta. Com isso, o grupo dos que apontaram o mais indesejável dos resultados ” a queda de demanda ” alcançou 5,7% em março, contra apenas 1,9% das respostas relativas a fevereiro.
As pequenas e microempresas foram as que mais sentiram a queda de um mês para o outro. De uma situação muito otimista em fevereiro, quando 100% delas informaram que a demanda tinha subido, apenas 60% das microempresas pesquisadas repetiram essa resposta com relação a março. Outras 37,1% disseram que a demanda ficou igual, e 2,9% não hesitaram em informar que verificaram queda nas suas vendas. As empresas de pequeno porte, que também haviam respondido em coro de 100% que a demanda tinha subido em fevereiro, ficaram bem divididas com relação a março: apenas 71,4% repetiram essa resposta, enquanto 21,4% desta vez disseram que a demanda foi igual e cerca de 7,2% informaram ter perdido vendas.
A situação é bem menos preocupante nas empresas maiores. Nas de tamanho médio, não variou o percentual das empresas que tiveram crescimento na demanda: 73,3%. Mas cresceu de 6,7% para 13,3% a participação das que já verificam queda de vendas, enquanto as vendas ficaram estáveis apenas para 13,3% das empresas médias, ante 20,0% delas em fevereiro. Melhor foi o resultado para as grandes empresas. As que apontam crescimento da demanda continuam em patamar muito alto, de 95,8%, ante 95,5% no mês anterior, tendo caído para 0,0% as que registraram demanda igual (2,3% no mês anterior) e subido para 4,2% as que tiveram vendas menores (2,3% em fevereiro).
O comércio foi o setor que sentiu mais abruptamente a mudança dos ventos. Apenas 52,9% das empresas comerciais pesquisadas revelaram ter aumentado suas vendas em março. Esse número era de 88,2% em fevereiro. Menos mal foi que 41,2% tiveram uma situação igual (apenas 11,8% haviam respondido assim no mês anterior), enquanto a queda de vendas, fato inexistente no setor em fevereiro, agora já chega a 5,9% das respostas.
Os setores da indústria, agronegócio, serviços e finanças sofreram menos em março os efeitos da política econômica. A elevação da demanda segue na faixa de 85% a 90% para essas empresas.
E não houve diferença no comportamento dos entrevistados homens ou mulheres. As respostas que apontaram crescimento da demanda em março foram de 74,0% nos homens e de 72,7% no caso das mulheres.
Jorge Luiz de Souza