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Crédito levou milhões à classe C, diz economista

Guarulhos, 16 de abril de 2008

Apontados como os responsáveis pela atual explosão de vendas no varejo, os cerca de 20 milhões de brasileiros que migraram da classe D para a C nos últimos meses, e foram às compras de diversos itens industrializados, não devem manter esse ritmo de consumo no médio e longo prazos. A opinião é do economista e especialista em mercado financeiro de Brasília, Humberto Veiga.

Para ele, é a atual abundância de crédito no mercado que sustenta o consumo dos emergentes à classe C. Esse filme, inclusive, o varejo já viu, entre 1997 e 1998, mas parece que esqueceu no que deu: inadimplência e quebradeira. “Como ocorreu antes, os novos consumidores estão se endividando, e existe uma grande chance de não conseguirem pagar por essas novas contas”, observou o economista. Passar de D para C se endividando é fácil, segundo Veiga.

Critério Brasil – A classificação de classe econômica é feita pela verificação de quais utensílios o cidadão tem em casa e seu nível de escolaridade. Dessa forma, se uma pessoa compra um DVD, um aparelho de televisão em cores e uma máquina de lavar, “tem grande chance de sair da classe D para a classe C. Na classificação, ter entre um e quatro aparelhos de DVD em casa valem dois pontos na pesquisa. Uma TV vale um; duas, dois; três somam três pontos; e quatro televisores, quatro pontos.

Ney Silva, diretor-executivo de Desenvolvimento e Soluções Técnicas do Ibope Inteligência, responsável pelo critério de classificação junto com a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), concorda que o crédito, hoje, é a base de sustentação da reclassificação de quem estava na classe D e passou para a C.

Para ele, entretanto, o sistema é apenas um registro da atual realidade do mercado brasileiro. “Sustentável ou não é uma mostra do comportamento do consumo e do consumidor brasileiro neste momento. Se, no futuro, as pessoas da classe C retraírem as compras e reduzirem os itens que as classificam, voltarão para a classe D, afirmou.

Tecnicamente, a estratificação social por consumo é realizada por meio do Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB). O trabalho, da Abep e do Ibope Mídia, é um sistema de pontuação que vai de zero a 46, “padronizado, replicável, objetivo e estável, para estabelecer a capacidade de consumo da população brasileira em nove regiões metropolitanas do País, que englobam as cidades de Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e o Distrito Federal.”

Reformulação – No final do ano passado, foi definida uma nova metodologia para a aplicação do critério. As mudanças foram a exclusão do item aspirador de pó do sistema de pontuação e a subdivisão da classe C em C1 e C2.

“Essa mudança atende a uma demanda recorrente do mercado por se tratar do maior segmento da população”, disse o diretor-executivo do Ibope Mídia. Com isso, a subdivisão da classe C refez a segmentação da classe econômica de maior volume no Brasil.

Até 2007, ela abrigava 39% da população, enquanto 29% pertenciam à classe D. A partir de 2009, o estrato C1 terá 21% dos brasileiros, o C2, 22%; e 25% dos cidadãos estarão no D. Os outros segmentos sociais manterão a mesma proporção do critério anterior.