Crédito levou milhões à classe C, diz economista
Apontados como os responsáveis pela atual explosão de vendas no varejo, os cerca de 20 milhões de brasileiros que migraram da classe D para a C nos últimos meses, e foram às compras de diversos itens industrializados, não devem manter esse ritmo de consumo no médio e longo prazos. A opinião é do economista e especialista em mercado financeiro de Brasília, Humberto Veiga.
Para ele, é a atual abundância de crédito no mercado que sustenta o consumo dos emergentes à classe C. Esse filme, inclusive, o varejo já viu, entre 1997 e 1998, mas parece que esqueceu no que deu: inadimplência e quebradeira. “Como ocorreu antes, os novos consumidores estão se endividando, e existe uma grande chance de não conseguirem pagar por essas novas contas”, observou o economista. Passar de D para C se endividando é fácil, segundo Veiga.
Critério Brasil – A classificação de classe econômica é feita pela verificação de quais utensílios o cidadão tem em casa e seu nível de escolaridade. Dessa forma, se uma pessoa compra um DVD, um aparelho de televisão em cores e uma máquina de lavar, “tem grande chance de sair da classe D para a classe C. Na classificação, ter entre um e quatro aparelhos de DVD em casa valem dois pontos na pesquisa. Uma TV vale um; duas, dois; três somam três pontos; e quatro televisores, quatro pontos.
Ney Silva, diretor-executivo de Desenvolvimento e Soluções Técnicas do Ibope Inteligência, responsável pelo critério de classificação junto com a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), concorda que o crédito, hoje, é a base de sustentação da reclassificação de quem estava na classe D e passou para a C.
Para ele, entretanto, o sistema é apenas um registro da atual realidade do mercado brasileiro. “Sustentável ou não é uma mostra do comportamento do consumo e do consumidor brasileiro neste momento. Se, no futuro, as pessoas da classe C retraírem as compras e reduzirem os itens que as classificam, voltarão para a classe D, afirmou.
Tecnicamente, a estratificação social por consumo é realizada por meio do Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB). O trabalho, da Abep e do Ibope Mídia, é um sistema de pontuação que vai de zero a 46, “padronizado, replicável, objetivo e estável, para estabelecer a capacidade de consumo da população brasileira em nove regiões metropolitanas do País, que englobam as cidades de Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e o Distrito Federal.”
Reformulação – No final do ano passado, foi definida uma nova metodologia para a aplicação do critério. As mudanças foram a exclusão do item aspirador de pó do sistema de pontuação e a subdivisão da classe C em C1 e C2.
“Essa mudança atende a uma demanda recorrente do mercado por se tratar do maior segmento da população”, disse o diretor-executivo do Ibope Mídia. Com isso, a subdivisão da classe C refez a segmentação da classe econômica de maior volume no Brasil.
Até 2007, ela abrigava 39% da população, enquanto 29% pertenciam à classe D. A partir de 2009, o estrato C1 terá 21% dos brasileiros, o C2, 22%; e 25% dos cidadãos estarão no D. Os outros segmentos sociais manterão a mesma proporção do critério anterior.