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Copom eleva juro e deixa varejo acuado

Guarulhos, 17 de março de 2005

O Comitê de Política Monetária (Copom) não elevou apenas os juros, ontem. A decisão aumentou o pessimismo no comércio, que teme, a partir de agora, novos repasses de preços pela indústria. O que, de certa forma, obrigaria o varejo a repassar para o consumidor o custo maior que a nova Selic, agora de 19,25% ao ano, impõe.
Em alguns estabelecimentos comerciais de São Paulo, a alta de mais de dois pontos porcentuais dos juros nos últimos meses já havia gerado um aumento nos preços de produtos e nos custos dos financiamentos.

Elias Feitosa Neto, proprietário da Casa Florêncio, na região central da cidade, confirma: o preço da matéria-prima de alguns produtos subiu, obrigando a loja a repassar essa alta para o consumidor final.

“Se não bastasse isso, toda vez que o Banco Central decide aumentar os juros, sobe o custo do capital de giro nos bancos, o que também acaba nos forçando a cobrar mais pelos produtos”, diz.

Alta – Bem perto da Casa Florêncio, na Loja 22, de máquinas e ferramentas, os juros do parcelamento subiram na semana passada, quando um aumento da Selic já era esperado até por conta da pesquisa semanal feita pelo próprio Banco Central com bancos, que apontou uma nova alta.

Ali, o parcelamento, feito por meio da financeira Losango, custa ao consumidor juros de 4,8% ao mês. “Eram de 4,2% até outro dia. Isso sem falar que muitos itens na loja foram reajustados com o aumento do aço no mercado internacional”, explica o gerente, Luiz Alves.

No Armarinhos Fernando, na rua 25 de Março, a elevação da Selic ainda não levou a um aumento generalizado dos preços na loja. Mas a inflação já serviu para encarecer produtos sazonais, como ovos de Páscoa.

Supermercados – As pequenas redes do varejo não estão sozinhas. Na cadeia de hipermercados Carrefour, a preocupação é quanto ao efeito psicológico que a notícia de novo aumento de juros gera no mercado.

De acordo com o diretor-executivo da rede, Celso Amâncio, o hipermercado ainda não repassou os últimos aumentos dos juros para o financiamento feito pela própria loja via cartão Carrefour. Segurar o repasse só tem sido possível, segundo Amâncio, porque a rede adotou uma política de contenção de gastos internos, o que permitiu manter o preço dos produtos.

“Em relação ao impacto dos juros, a empresa se mantém em compasso de espera. Por enquanto não foi preciso elevar as taxas de financiamento. Mas avaliamos todos os dias o impacto de mais um aumento nos negócios”, desabafa.

Efeito – A sócia-diretora da Baco's Importadora, Leila Furlan, conta que não mexeu no custo do financiamento, mas se preocupa com os efeitos que o aumento dos juros tem sobre a economia. “Como lidamos com o público de classe média, qualquer mudança na condução da política econômica pode gerar desconfiança e fazer esse cliente deixar de comprar”. Nas 80 lojas da rede Mig, de móveis e eletrodomésticos, os juros do financiamento estão congelados. “Se fizermos uma nova tabela de preços toda vez que o Copom eleva a taxa, acabamos afastando o cliente”, diz Leonardo Goulart de Oliveira, da área administrativa.

Adriana Gavaça