Copom aumenta juros para 25,5%
O aumento dos juros promovido nesta quarta-feira dia 22 de janeiro sinaliza uma preocupação do Banco Central (BC) com sua credibilidade e com a meta de inflação para 2003, dizem especialistas. O Comitê de Política Monetária do BC (Copom) decidiu aumentar a taxa básica, a Selic, de 25% para 25,5% ao ano, na primeira reunião no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão foi unânime.
“Os indicadores de inflação mostram sinais de queda. No entanto, o Copom julgou que a convergência das expectativas de inflação para a trajetória das metas recomenda uma elevação na taxa Selic para 25,5% ao ano”, justificou o Copom.
O economista-chefe do BicBanco, Luiz Rabi, acredita que a decisão do BC pode estar atendendo a uma parcela do mercado que na terça-feira mostrou desconforto com o ajuste da meta de inflação para 8,5% em 2003. Rabi explica que a elevação é praticamente insignificante do ponto de vista prático, mas que a postura do Copom busca mostrar que “o BC do PT também eleva taxa de juros”. Com isso, a autoridade monetária tenta combater a expectativa de inflação neste ano, que está em 11,19%.
– A idéia é reverter as expectativas sobre a inflação e com isso reverter a inflação. Se o BC conseguir atingir esse objetivo, conseguirá atingir a meta de uma forma menos penosa. Se não conseguir, a alternativa será um aperto monetário maior – disse o economista.
O coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, também disse que o BC, com a decisão desta quarta-feira, começou a conseguir credibilidade, embora o economista acredite que a medida teria sido mais eficaz se a Selic fosse para 26%.
– Até agora o Banco Central vinha fazendo muitas declarações, mas não havia tido oportunidade para agir. Essa foi a primeira e considero que foi um bom começo. O importante é que o BC consiga criar uma reputação junto ao mercado – disse.
Salomão também acredita que a alta de 0,5 ponto percentual é muito pequena e trará poucos efeitos práticos para o varejo e para o consumidor. O economista descarta recuo no consumo e afirma que os empresários já pagam juros muito maiores do que a Selic ao tomar empréstimos.
Com as novas metas de inflação para 2003 e 2004, o BC não tinha outra opção senão aumentar os juros, opinou o economista Wilson Ramião. Segundo ele, todos os índices inflacionários mostram alta neste início de ano e a única maneira de convergir a inflação para a meta é mesmo a elevação dos juros.
– Não era de se esperar algo diferente. Seria incompatível mudar as metas de inflação sem elevar os juros. Os índices de inflação neste começo de ano estão mais elevados que o esperado pelos analistas e o governo deixou claro que vai fazer tudo para segurar a alta dos preços – afirmou.
Ramião disse que o presidente do BC deu na terça-feira a dica sobre a alta da taxa, ao declarar que nenhum país cresce de forma sustentável se mantiver a inflação alta. Ele lembrou que o dólar tem recebido pressão com a possibilidade de guerra entre Estados Unidos e Iraque e os problemas na Venezuela e que existe risco de a inflação subir mais. Se a guerra for curta e os problemas internacionais forem resolvidos, a tendência é de que a moeda americana recue e os juros caiam novamente, de acordo com o economista.
Paula Dias, Sabrina Valle e Wagner Gomes