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Consumidor diferente pede loja adaptada a seu estilo

Guarulhos, 31 de março de 2005

O varejista da próxima década deve ficar atento às mudanças sócio-econômicas para não perder espaço no mercado. O envelhecimento da população, a conquista cada vez maior da mulher no mercado de trabalho, o conceito de família e o número de habitantes por residência alteram todo o comportamento do consumidor na hora de decidir como, quando e o que comprar. Essa é a opinião de dois especialistas na área e professores da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV), Maurício Morgado e Juracy Parente.
Como exemplo, eles citam uma pesquisa do ano passado da AC Nielsen, que destacou que os produtos cujas vendas mais subiram nos últimos dez anos foram todos ligados à praticidade e conforto, tais como fraldas descartáveis, sucos prontos, misturas para bolos e alimentos para cães. “A presença das mulheres e idosos no mercado de trabalho demanda novos produtos”, explica Morgado.

Ambos os professores defendem que só sobreviverá o varejista que conseguir se adaptar aos novos desejos do consumidor. “A população mais velha é exigente e o brasileiro também conhece melhor seus direitos, portanto, o comerciante que não souber seus deveres e não atender muito bem ao cliente vai perder espaço”, comenta Morgado.

Auto-atendimento – Mas, ao contrário do que se pode imaginar, isso não é ruim, apenas muda o cenário. Um exemplo são as lojas de auto-atedimento, que surgiram justamente porque as mulheres atuais têm dupla jornada de trabalho e não podem mais demorar horas nas compras.

“Da mesma forma, não é mais possível entregar um móvel na casa do consumidor sem dizer exatamente o dia e a hora da entrega porque não existe mais dona-de-casa para receber a mercadoria”, diz Morgado.

Para ilustrar esse novo cenário no varejo, o professor Juracy Parente cita o surgimento de novos tipos de estabelecimento como as lojas de conveniência abertas 24 horas, as lojas virtuais e os restaurantes por quilo. “Esses estabelecimentos surgiram da visão de alguém que percebeu que o comportamento da população estava mudando. O movimento não é novo, mas se intensificou nos últimos anos.”

Conversão – Mas o fenômeno não acaba com a criação de novas formas de comércio. Com o tempo, explica Parente, há uma tendência de passado e presente convergirem, criando um terceiro modelo de negócio.

E isso já vem ocorrendo. Muitas lojas físicas já criaram sites na internet, formando um modelo multicanal de vendas. Restaurantes à la carte, para não perderem totalmente o espaço para os quilos, criaram “quilos chiques” na hora do almoço. “É a evolução do varejo”, diz o professor.

Do lado oposto, grandes redes, como Mappim, Mesbla e Sendas, que já ocuparam os primeiros lugares no ranking do varejo brasileiro, faliram ou foram vendidas por não se adaptarem às novas tendências. “É impensável hoje acreditar que uma rede como a Casas Bahia pode morrer, mas se o comportamento do consumidor mudar e a empresa não se adaptar, ela vai falir”, decreta Morgado. “Não se deve se fechar em uma estratégia, mas abrir horizontes e adaptar o negócio conforme a sociedade evolui.”

Fernanda Pressinott