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Comportamento Organizacional

Raízes profundas de uma matéria difícil

Os livros didáticos da administração de empresas afirmam freqüentemente que o comportamento organizacional é um campo interdisciplinar. Não é verdade. Multidisciplinar, talvez, mas de forma alguma interdisciplinar. O CO não é uma área de estudo coerente. Trata-se de uma área geral que engloba o pensamento e a pesquisa de numerosas disciplinas e subdisciplinas. Ela incorpora estudos de muitos campos como a psicologia, sociologia, antropologia, economia, arte, humanidades, direito e medicina. O comportamento organizacional é, de fato, um misto de vários aspectos; uma série de correntes de pesquisas acadêmicas, pouco ou nada relacionadas entre si. E isso faz dela uma área anômala no contexto do estudo da administração.

O comportamento organizacional não constitui uma função da empresa como marketing, finanças, contabilidade ou produção. A função da empresa que se preocupa com as “pessoas” é o departamento de pessoal (gestão de recursos humanos). Tanto o CO como a gestão de pessoal/recursos humanos relacionam-se com “pessoas”, mas não da mesma forma. O departamento de pessoal e a gestão de recursos humanos estão diretamente relacionados com a criação, implementação e administração de sistemas para a gestão e controle das pessoas no seio de uma organização.

Os especialistas em gestão de recursos humanos (ou o departamento de pessoal) cuida dos aspectos funcionais do emprego como, por exemplo, as contratações, demissões, sistemas de remuneração, sistemas de avaliação da performance, promoções, programas de formação e desenvolvimento, transferências, aposentadorias etc. A maioria das organizações tem uma pessoa, grupo ou departamento que se ocupa destes aspectos, mas nenhuma organização, fora das universidades ou escolas de administração, possui um departamento de comportamento organizacional.

Macro e micro CO

Talvez a melhor forma de reduzir a complexidade do comportamento organizacional consista em dividir o campo em elementos “macro” e “micro” – o “macro” CO centra-se no plano “organizacional” de abstração e tem um caráter mais sociológico, enquanto o “micro” centra-se no nível “comportamental” de abstração e assume um caráter mais psicológico. Para simplificar um pouco mais, a preocupação com a organização, dentro do comportamento organizacional, caracteriza normalmente o professor ou pesquisador como especialista em “macro CO” com interesses em questões de organização formal e estrutural.

A principal diferença entre o macro e micro CO situa-se ao nível de abstração e da seleção efetuada por pesquisadores de determinados conjuntos de fatores de estudo. Esse “nível de abstração” pode ir além das duas categorias caracterizadas pela divisão entre “micro” e “macro”. A maioria dos manuais de introdução ao CO diferencia esse campo em três subconjuntos, centrando-se nos processos individuais de grupo e organizacionais.

Por que estudar o CO?

O CO utiliza as conclusões das disciplinas acadêmicas tradicionais, aplicando-as ao mundo prático dos negócios. Ele fundamenta as teorias acadêmicas na realidade concreta do dia-a-dia. As preocupações atuais daqueles que se encontram à frente das empresas, que a nível estratégico – ao analisar, por exemplo, os riscos de um investimento no Brasil -, quer a nível operacional – para a implementação de uma “joint venture” na Rússia – definem o território explorado pelo comportamento organizacional.

O fracasso das organizações não pode ser atribuído apenas aos trabalhadores ou às mudanças do mercado; o insucesso organizacional é uma falha de gestão. As grandes organizações entram em dificuldades não por carecerem dos recursos para serem bem-sucedidas mas, sem, porque não empregam esses recursos de uma forma suficientemente sensata. Não se trata apenas de uma questão de sabedoria. E em que área de ensino das escolas de administração é que esta matéria é abordada? Nos cursos de dados quantitativos?. O terreno abrangido pelo CO não é maleável como os céticos querem fazer crer, mas antes um dos terrenos mais duros que existem.

O CO alerta, repetidamente, para o fato de que as pessoas não se comportam necessariamente da forma como gostaríamos que se comportassem. Independentemente de nossas boas intenções, caso tomemos decisões ignorando os padrões sociais e psicológicos da natureza humana, o resultado final acaba sendo o oposto do que pretendíamos, uma vez que lidamos com o mundo humano que segue seus próprios imperativos – imperativos que não se encaixam de forma fácil nas outras áreas das escolas de administração, nem são pesquisados por elas de maneira séria.

As vantagens de levar o CO a sério ultrapassam as preocupações e vão muito além do interesse pelos ambientes externos ao mundo das empresas. A crescente sensibilidade face aos fatores de comportamento racional, não-racional e irracional dentro das organizações pode nos ajudar a nos tornamos melhores administradores mas – talvez ainda mais importante – a nos tornarmos, também, pessoas mais sensatas.

Adapatação
Por Jack Defeld Wood – Professor da London Business School

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