Em algumas regiões da cidade de São Paulo, principalmente onde há uma atuação mais ousada do crime organizado, não são mais os comerciantes e a população que escolhem o horário de fechar as portas de seus estabelecimentos ou de suas casas. O toque de recolher já é conhecido por muitos e determinado por criminosos que operam nessas áreas há tempos. “A atividade comercial hoje está condicionada ao local e ao horário que o crime organizado determina. Com isso, nós perdemos vidas, qualidade de vida e nos tornamos prisioneiros”, disse ontem o superintendente do Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Domingos Solimeo, que participou de debate no III Encontro do Fórum Nacional de Segurança Pública. Para Solimeo, vários fatores contribuem para que a segurança pública esteja do jeito que está: preocupante. Ele diz que a solução para essa questão está no policiamento preventivo, nas perspectivas de vida dos jovens e em medidas legislativas. “Segurança é um problema de toda a sociedade e, principalmente, do Estado. A preocupação do comércio e da indústria é investir em segurança”, disse. Cássio Vechiatti, diretor da Fiesp, completa dizendo que hoje o crime organizado está muito mais bem estruturado do que a própria polícia. “Hoje as organizações criminais possuem equipamentos e uma preparação que os nossos policiais atualmente não têm”, disse Vechiatti.
Debates – A questão sobre a prevenção e repressão ao crime comum e organizado foi um dos temas debatidos no Forúm Nacional de Segurança Pública, que começou ontem na Assembléia Legislativa de São Paulo e contou com a participação de representantes de 22 Estados. O evento é uma iniciativa do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo, com apoio da Associação Comercial e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Alternativas – Na opinião do presidente do Sindicato dos Investigadores do Estado de São Paulo, João Batista Rebouças da Silva, não se deve culpar somente o Estado pela falta de segurança nas cidades, a sociedade também deve e tem de participar. “É através da troca de informações e de experiência que podemos adequar a segurança pública em todo o país”. Rebouças disse ainda que hoje não existe mais o temor, por parte dos bandidos. “Eles sabem que, muitas vezes, não são punidos e, quando o são, cumprem penas mínimas. Temos de fazer com que os bandidos tenham novamente medo da ação da polícia”. Para o desembargador aposentado Renato Laércio Talli, a solução para a segurança pública passa pela integração das polícias militar e civil, pela mudança do código penal – em vigor desde 1943 -, e também pela estruturação das delegacias e motivação dos funcionários. “Sabemos que existe corrupção dentro da organização policial de todo o País. Isso se transforma em um espelho para a segurança pública. Se eles são deficientes, ela também será. O ideal é qualificar os trabalhadores, não só com salários, mas também com melhores equipamentos de trabalho. A motivação é a chave para temos bons policiais”, disse Talli. O encontro continua até sexta-feira. O tema a ser debatido hoje é Que tipo de polícia o Brasil precisa? e, amanhã, A Polícia e os Direitos Humanos. O relatório com as sugestões das autoridades que participaram do seminário será entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves, e ao ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior.
Kelly Ferreira