As pequenas empresas são mais resistentes do que se imagina e o comércio em bairros sobrevive sem graves problemas de concorrência. Esse é um dos resultados apresentados pela última Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (Paep), realizada pela Fundação Seade no ano de 2001.
De acordo com o estudo, 70,05% dos comércios instalados no estado de São Paulo começaram suas atividades na década de 90. Embora uma análise rápida desse número possa dar a impressão de que as empresas paulistas são novas, na verdade, o índice prova que os varejistas, principalmente os pequenos estabelecimentos, conseguem sobreviver por pelo menos 10 anos.
“Alguns analistas, o Sebrae e outras entidades costumam dizer que, se o pequeno negócio dura mais de cinco anos, é porque têm condições de sobreviver às intempéries da economia. Essa pesquisa revela que a maioria aguenta os baques do mercado”, diz o chefe da área de produtos e um dos coordenadores do estudo, Vagner Bessa.
De acordo com o analista, os bairros, principalmente os mais distantes, mantêm estabelecimentos comerciais há décadas com clientes cativos e fiéis. “Quem não conhece uma lojinha em seu bairro que passou de pai para filho ou que os proprietários são bastante idosos?”, questiona.
Para Bessa, esses pequenos estabelecimentos não sofrem tanto com a concorrência de grandes empresas porque estão distantes dos centros consumidores. Além disso, no caso de mercearias, por exemplo, os consumidores “são praticamente obrigados” a comprar alguma coisa no mês. “De repente você precisa de algo para cozinhar e não vai sair de casa para ir a um hipermercado distante. Isso garante as vendas desses empreendimentos”, afirma. Da mesma forma, papelarias, açougues e lojas de presentes se garantem no comércio dos bairros.
Especialidades – No entanto, para estabelecimentos em centros de vendas mais conhecidos, o coordenador explica que a especialidade é fundamental para manter a clientela. “Cinturões para determinados nichos são criados em cada bairro. Por exemplo, em Moema existem muitas lojas de grife e sofisticadas. Se abrir esse tipo de loja lá, é provável que ela vá bem. Por outro lado, um comércio popular com certeza não fará sucesso”, diz Bessa.
Se separada por ramo de atividade, a pesquisa mostra que alguns segmentos têm estabelecimentos mais antigos. O setor varejista de tecidos, armarinho, vestuário e calçados, por exemplo, tem 36,77% dos empreendimentos anteriores à década de 90. Supermercados também registram um índice maior de empresas anteriores a 1990, com 37,04%.
Já o varejo especializado, que inclui lojas de usados, perfumarias, material de construção, entre outras, tem 75,41% dos seus pontos estabelecidos após 1990 e 13,87% entre 1980 e 1990. “São setores novos, que foram sendo criados com o tempo, por isso é quase impossível encontrar lojas de 20 anos desses ramos”, afirma Bessa. Da mesma forma, o varejo não especializado que não vende produtos alimentícios, que inclui importados, por exemplo, tem 74,98% de aberturas na década de 90.
Fernanda Pressinott