Comércio entre Brasil e Argentina volta a crescer
Aos poucos, o comércio entre Brasil e Argentina retoma o antigo ritmo de crescimento. Registrou em novembro o melhor resultado deste ano em relação a 2001 e superou os meses de outubro e setembro, que já haviam registrado melhora. A tendência permite projetar uma crescente recuperação para o próximo ano.
A corrente de comércio entre os dois países, depois de perder em média 45% no primeiro semestre, fechou o mês passado com recuo de 16,5% em relação a novembro de 2001.
Foi o melhor resultado do ano, constituído principalmente pelo crescimento das exportações brasileiras, que alcançaram US$ 234 milhões, recorde em 2002.
“O comércio da Argentina com o Brasil vem melhorando, nos últimos meses, mais rapidamente do que ocorre na relação da Argentina com o resto do mundo”, diz Maximiliano Scarlan, um dos economistas responsáveis pela análise feita pelo Centro de Estudios Bonaerenses (CEB), com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Brasil.
Scarlan diz, porém, que as perdas do final do ano passado e de todo este ano foram tão grandes que o volume do comércio terá de crescer muito para retomar os patamares de 2001: as trocas entre os dois países, este ano, registrarão pouco mais de US$ 7 bilhões, praticamente a metade de 1997 e 1998, os melhores anos do Mercosul.
“Há de considerar que 2001 já foi um ano ruim, 10% abaixo de 2000, o que significa dizer que voltar aos níveis do ano passado está longe de representar uma recuperação plena”, diz Scarlan.
A incipiente recuperação das vendas brasileiras se deve basicamente a uma melhora nos níveis de consumo e da produção, depois que o governo de Eduardo Duhalde estabilizou o câmbio e controlou a inflação – que em outubro foi de apenas 0,3% e em novembro de 0,5%.
Enquanto no primeiro semestre o Brasil manteve uma média de exportações em torno de US$ 160 milhões mensais, em outubro saltaram para US$ 232 milhões e em novembro aos US$ 234 milhões, num aumento de 45% sobre os momentos de maior retração.
Em comparação a novembro de 2001, as exportações recuaram 26%, a menor perda deste ano, que chegou a registrar retrocesso médio de 65% no primeiro semestre – até 71,5% em março. As compras argentinas do Brasil, de qualquer forma, estão muito distantes e não chegam sequer à metade dos cerca de US$ 600 milhões mensais que alcançavam em 1997 e 1998.
Importações melhoram
Também as importações brasileiras de produtos argentinos apresentaram melhora em novembro. Superaram nos dois últimos dois meses a linha dos US$ 400 milhões, acima dos resultados de agosto e setembro. O patamar já havia sido alcançado em praticamente todo o primeiro semestre, mas é importante lembrar que tratava-se de um momento anterior à disparada do dólar frente ao real, mais propício às compras a preços baixos no vizinho.
Déficit de US$ 2,27 bilhões
Na balança bilateral, 2002 apresentará uma vantagem recorde para a Argentina. Até novembro, o superávit acumula US$ 2,278 bilhões, o maior da história de comércio regional.
E, caso dezembro repita os resultado dos dois últimos meses, o déficit bilateral para o Brasil chegará a US$ 2,450.
Isto faz do Brasil o maior responsável pelo superávit recorde da balança argentina este ano, com mais de 16% do saldo de cerca de US$ 15 bilhões projetados pelo governo até dezembro.
Será o sétimo ano seguido que a balança bilateral penderá para o lado argentino. No ano passado, o déficit brasileiro foi de US$ 1,2 bilhão.
Mas a tomar pelos resultados dos últimos meses, o desequilíbrio na balança comercial Brasil/Argentina tende a diminuir em torno de 20% em 2003.
Padrão cambial
Os padrões cambiais parecidos, em torno de 3,60 por dólar, e a persistência na melhoria do quadro interno argentino permitiriam o aumento das importações brasileiras.
Com base nos últimos meses, porém, o relativo reequilíbrio no volume de trocas não será suficiente para tirar a boa vantagem em favor da Argentina, que poderá ter saldo torno dos US$ 2 bilhões no final do ano que vem.