Uma casa de plástico reforçado, que fica pronta em menos de dez dias, custa o mesmo que um carro popular e pode ser financiada pela Caixa Econômica Federal (CEF) já é realidade no Brasil. Desenvolvida pela MVC – empresa do Grupo Marcopolo, fabricante de produtos plásticos, com forte atuação no segmento automotivo –, a chamada Casa Prática está sendo comercializada pela Construtora Romeu Chap Chap em todo o Brasil. São três opções de plantas, com 36, 42 e 63 metros quadrados de área útil, dois ou três dormitórios, com preço entre R$ 450 e R$ 650 o metro quadrado.
“Com essa parceria, esperamos consolidar esse sistema de construção com plástico no País do mesmo modo que estamos
fazendo no mercado externo”, diz o diretor-geral da MVC, Gilmar Lima. Segundo ele, o projeto não envolve apenas a construção da Casa Prática, mas a criação de projetos para condomínios, pousadas, casas de praia e de campo e até escolas e postos de saúde. “Em função da flexibilidade do produto, também podemos desenvolver projetos personalizados com diferentes dimensões”, diz Lima.
Para o sócio-gerente da Romeu Chap Chap e presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Romeu Chap Chap, a iniciativa é uma alternativa eficaz para a produção de moradias populares. “Precisamos oferecer teto digno para famílias com renda mensal de um a cinco salários mínimos, segmento que representa 80% do déficit habitacional”, aponta.
Conforme explica Chap Chap, em um primeiro momento, a Casa Prática será oferecida diretamente para empresas de desenvolvimento urbano, responsáveis pela execução de loteamentos populares regularizados, assim como incorporadoras, construtoras e empresários que tenham interesse em grande volume de moradias. “Já temos uma solução prática. Precisamos,
apenas, reduzir a burocracia na construção civil, assim como a carga tributária, para simplificar o processo.”
Vantagens – O sistema modular de construção, utilizado na edificação da Casa Prática, apresenta algumas vantagens em relação aos sistemas construtivos tradicionais, que exigem a utilização de tijolos, cimento e madeira. Segundo o diretor-geral da MVC, os pontos positivos incluem: velocidade de montagem, o que gera retorno rápido de investimento; conforto térmico e acústico; durabilidade do material (cerca de 50 anos); facilidade de limpeza e flexibililidade de montagem. Sem falar que não há desperdício de material durante a construção.
“A única desvantagem é que a construção demanda um lote mínimo para tornar o investimento viável. Para sermos competitivos, a venda mínima precisa ser de 20 unidades ou 800 metros quadrados de área construída”, afirma Lima, sem dar
maiores explicações sobre esse cálculo financeiro.
A Casa Prática é comercializada em kits com duas configurações: o Kit Econômico, vendido com estrutura metálica, paredes internas e externas e forro com isolamento térmico-acústico; e o Kit Plus, que, além dos itens da linha econômica, inclui também esquadrias de madeira, alumínio, aço ou PVC, instalações elétricas e hidro-sanitárias e telhas de fibrocimento ou cerâmica.
Tecnologia – Conforme explica o coordenador de engenharia da MVC, Erivelto Mussio, a tecnologia Wall System, como é denominado esse tipo de construção, reúne plástico reforçado, utilizado em carros de Fórmula 1 e barcos. A estrutura de
sustentação é feita de aço. Já os painéis que formam as paredes possuem estrutura tipo sanduíche de lâminas de compósitos (plástico termofixo reforçado com fibra de vidro) e núcleo especial para atender às normas brasileiras e internacionais de desempenho térmico e acústico.
“O material é altamente resistente a impactos, terremotos, ventos e altas temperaturas”, diz o especialista. “O painel dispensa o processo de pintura e pode ser produzido em diferentes cores e texturas.”
Mussio também ressalta que a tecnologia foi desenvolvida em 2003, mas que ainda é uma novidade no País. Por aqui, já existem cerca de 30 casas espalhadas pelo Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. No mercado externo, esse número é bem maior. “Contabilizamos cerca de 20 mil metros quadrados de área construída, somando os projetos do Brasil e do exterior”, conta. “A intenção é dobrar essa quantidade durante este ano.” Segundo o especialista, a empresa possui capacidade para fornecer material para a construção de 500 casas por mês.
Exportação – O mercado externo vê com bons olhos a tecnologia Wall System e absorve 70% da produção da fábrica da MVC localizada em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba (PR). A primeira demanda internacional foi para a construção de uma escola com 1,3 mil metros quadrados em Angola, na África, em 2005. A partir daí, Caribe, Venezuela e Equador também entraram na lista de clientes estrangeiros, recebendo além de condomínios de casas, escolas, postos policiais e de saúde.
No fim do ano passado, a MVC fechou novo contrato com o governo de Angola, no valor de US$ 1,2 milhão, para o fornecimento de uma escola para a capital Luanda, utilizando a tecnologia Wall System. Com 6 mil metros quadrados, a instalação terá dois andares e já está sendo construída, com prazo de conclusão de três meses.