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Brasil perto de ter maior juro real do mundo

Guarulhos, 21 de janeiro de 2004

O Brasil tem grandes chances de, em um curto espaço de tempo, ocupar a liderança no ranking dos países detentores das maiores taxas de juros reais. Basta que, para isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) continue fazendo vista grossa para a queda da inflação e mantenha cortes moderados na taxa de juros básica, a Selic. Os juros reais são os juros da economia, descontada a variação da inflação.

O Brasil encerrou o ano de 2003 com a segunda maior taxa de juro real do mundo, igual a 12,8%. A maior também em quase quatro anos. O País só perdeu para a Turquia, que fechou o mês de dezembro passado com juros reais de 14,3%, de acordo com estudo da consultoria Global Invest.

“Se o Banco Central mantiver sua política de cortes tímidos da Selic daqui para a frente, abaixo de um ponto porcentual, dificilmente o Brasil escapará de ser o líder no ranking de países com maiores juros reais”, diz o economista Alecsandro Agostini, da Global.

Selic elevada – Segundo Agostini, a alta dos juros reais é conseqüência da manutenção da Selic acumulada nos últimos 12 meses em patamares elevados, não acompanhando a queda da inflação em igual período. Como os juros reais são calculados levando-se em conta, além da Selic, a inflação, a previsão da Global considerou a projeção feita pelo próprio governo de uma inflação de 5,96% para os próximos 12 meses, calculada com base no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para escapar do título indesejável, seria preciso, diz o economista, que os juros brasileiros baixassem para 15% ao ano. Seria preciso que o Copom ousasse e raspasse da taxa 1,5 ponto porcentual. O que, na opinião de analistas do mercado financeiro que nos últimos dias já fizeram suas apostas, estaria fora dos planos do Banco Central.

A expectativa da Global para este mês de janeiro, considerando-se que, de fato, o BC corte 0,5 ponto apenas, é que os juros reais subam ainda mais, para 13,8% e em fevereiro atinja 13,9%. Ou seja, deverão continuar subindo.

As média das taxas de juros reais cobradas em 40 países analisados pela Global é de 2,2%. A mais baixa os últimos cinco anos. “Este seria um bom momento para o governo furar a barreira psicológica dos juros de 15% ao ano”, diz o economista Agostini.

Ao contrário da expectativa, no entanto, Agostini engrossa a lista dos que apostam em um corte bem mais modesto, de apenas 0,5 ponto.

Roseli Lopes