Brasil encolhe no trimestre
Renda e exportações em queda, juros e dólar em alta e uma indústria sufocada fizeram a economia brasileira encolher pelo segundo trimestre seguido. O Produto Interno Bruto (PIB), indicador da geração de bens e serviços do país, caiu 0,73% de janeiro a março, em relação a igual período de 2001. O PIB já havia caído 0,69% no último trimestre do ano passado, na mesma comparação.
De novo, o resultado só não foi pior porque o setor agropecuário cresceu 4,36%. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro, diz o chefe do Departamento de Contas Nacionais do instituto, Eduardo Nunes, é de “uma profunda desaceleração do crescimento”.
Apesar de ruim, a queda no PIB surpreendeu economistas e analistas, que projetavam um quadro muito pior. O país ainda ficou sob racionamento de energia até fevereiro. Os indicadores econômicos como renda e emprego só pioraram. Para completar, a base de comparação – 1º trimestre de 2001 – prejudica estatisticamente qualquer eventual avanço conquistado, porque o PIB havia crescido então mais de 4%. Na época, a taxa de juros básica do país, a Selic, estava em 15,25%, e não em 18,5%, como hoje.
“Esperávamos uma queda de 2,8% no PIB, mas não temos muitas perspectivas de melhora neste trimestre”, disse o economista Fernando Barbosa, do BBV Banco. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) previa uma queda de 1,6%. O racionamento acabou em março, mas o ambiente econômico de lá pra cá piorou. “Câmbio e juros pararam de cair, o preço do combustível subiu e o risco-país disparou, afetando os juros no longo prazo, relevantes para decisões de investimentos”, diz Simone Saisse, coordenadora-adjunta da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Eu esperaria mais desaceleração”.
Isabel Clemente