A convite do governo canadense, uma equipe de diplomatas brasileiros embarca na próxima segunda-feira ao Canadá com a finalidade de estimular os empresários locais a investir no Brasil e aumentar suas compras de produtos brasileiros.
A missão marca a primeira tentativa dos dois países de isolar suas controvérsias e impedir que elas contaminem as relações econômicas bilaterais. No próximo dia 10, no Rio de Janeiro, negociadores do Brasil e do Canadá se reúnem mais uma vez para tratar de uma solução pacífica para o conflito em torno dos subsídios à Embraer e à Bombardier, que se arrasta há cinco anos.
“O governo do Canadá reconhece que o potencial de investimento no Brasil e de aumento da corrente de comércio foi prejudicado pelas controvérsias”, afirmou o embaixador Mário Vilalva, diretor-geral do Departamento de Promoção Comércio do Itamaraty.
“O Canadá também avalia que o Brasil conta com excelentes oportunidades para os investimentos diretos, principalmente no setor industrial”, completou.
Conforme explicou, os cinco diplomatas devem percorrer dez cidades canadenses – Vancouver, Calgary, Edmonton, Saskatoon, Winnipeg, London, Toronto, Montreal, Halifax e St. John- em duas semanas.
Haverá encontros e palestras em associações empresariais, nas quais os funcionários brasileiros apresentarão a atual situação macroeconômica do País, a legislação sobre investimentos, os programas de financiamento e a oferta exportadora dos chamados novos produtos – como calçados, alimentos, medicamentos e produtos de borracha.
Segundo Vilalva, a equipe estará preparada até mesmo para explicar como poderão ter acesso às linhas do Programa de Financiamento às Exportações (Proex), o estopim das queixas do Canadá contra o Brasil na Organização Mundial do Comércio.
Também serão apresentados casos de sucesso de empresários canadenses que investiram no Brasil. Em princípio, o Canadá se mostra interessado em estimular os investimentos de seus empresários nos seguintes setores brasileiros: papel e celulose; energia, gás e petróleo; agroindústria e biotecnologia; tecnologia ambiental; equipamentos agrícolas e de transportes; mineração; medicamentos; telecomunicações e produtos químicos.
Atualmente, o estoque de investimentos canadenses no País alcança US$ 4 bilhões – incluída a recente compra da cervejaria Kaiser pela Molson. O Canadá ainda espera elevar as suas importações de produtos brasileiros, de forma a equilibrar o comércio bilateral.
Trata-se de uma forma de se ver menos afetado por uma possível guerra de retaliações. Atualmente, o Canadá exporta para o Brasil cerca de US$ 1 bilhão e importa cerca de US$ 500 milhões em produtos brasileiros.
Mesmo ciente dessas motivações, o governo acredita que se trata de um bom negócio, uma vez que a população canadense tem alto poder aquisitivo. A renda per capita média é de US$ 20 mil ao ano no país.
De acordo com Vilalva, a missão marca “um novo namoro” entre os dois países. Mas não deve interferir nas decisões estratégicas do Brasil em relação ao conflito na OMC em torno das empresas aeronáuticas.
Na próxima quarta-feira, ambos os países se reúnem para tratar de uma forma de contornar a controvérsia – um esforço que, até agora, não deu resultados. No final de maio, o Canadá terá de responder se vai alterar seus programas de financiamento. Se a resposta for negativa, o Brasil tende a pedir a autorização da OMC para aplicar retaliações.
Denise Chrispim Marin