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Brasil competitivo

Guarulhos, 03 de janeiro de 2003

Grady Means é consultor da PWC Consulting, recentemente adquirida pela IBM, e esteve na ExpoManagement falando sobre as possibilidades do Brasil na economia mundial. Means se declarou muito otimista diante das mudanças globais que estão em curso e que impactarão os próximos anos. Para ele, o Brasil possui uma excelente base para o crescimento, base tecnológica de alto nível, inclusive com boas condições para exportação; facilidade de acesso a capital para financiamento de pequenas empresas e para o crescimento de empresas de alto potencial; economia estável com importações diminuindo, provocando um melhor equilíbrio da balança comercial; altíssimo potencial do mercado consumidor e investimentos chegando no país na forma de infra-estrutura e não de capital volátil.

Acima de tudo, Grady Means acredita em novos princípios que norterão o crescimento sustentável: o do crescimento baseado em ativos não tangíveis como idéias, capital intelectual ou valor de marca. A internet, mais uma vez, é citada como o principal componente das mudanças de paradigmas na economia global. Boas idéias não necessariamente requerem grande quantidade de capital. Muitas vezes, um bom modelo de negócio é muito mais importante do que o produto ou serviço em si.

Ele gosta de exemplificar esta idéia de modelo de negócio inovador com um exemplo bem real: O Porsche Boxter. Um veículo de altíssima qualidade, excelente tecnologia, de desempenho inigualável, luxuoso e caríssimo… mas que não é feito pela Porsche. Cada pedido feito pela internet, com todos os detalhes, peculiaridades e especificações, vai simultaneamente para 1000 fornecedores de peças, poucos deles são de fato alemães, nacionalidade da Porsche. O produto é montado e entregue em 6 semanas, demonstrando a efetividade da terceirização total daquilo que normalmente não seria terceirizado por se tratar do ?core business? ou principal negócio da Porsche. Neste modelo de negócios, o que é realmente o foco da Porsche é a marca e não o carro em si. A equipe da Porsche na Alemanha se preocupa com o desenvolvimento da tecnologia e gestão de sua equipe de corrida. Isso é gerenciar a marca.

Talvez o que não tenha ficado claro para os combatentes da globalização é que, na verdade, a globalização é viável e até muito benéfico para qualquer país que souber tirar proveito de uma economia de escala. Trata-se da excelente oportunidade de cada país desenvolver suas competências fundamentais para fazer parte de uma cadeia de valor global. O Brasil, por exemplo, não precisa competir no mercado internacional com tecnologia de ponta, tampouco com produtos comoditizados. O Brasil pode, entretanto, competir com seu potencial inovador e criativo, mão-de-obra com excelente proporção custo/qualificação ou indústria de base de alta qualidade/produtividade, e fazer parte, talvez, do rol de fornecedores da Porsche que requeira estas competências.

Quando uma grande multinacional consegue segmentar seus processos em partes menores, entender os elementos fundamentais críticos de cada parte do processo, descobrir regiões no globo que melhor ofereçam estes elementos a custos operacionais razoáveis e utilizar a tecnologia para viabilizar a integração de todos estes elementos, ela está trazendo maior competitividade ao mercado com a exploração de uma cadeia global de valor que culmina com um produto com melhor qualidade e menor custo. Do outro lado, quando uma pequena fábrica descobre sua competência básica e, através da tecnologia, consegue atingir aquele parceiro em qualquer lugar do mundo que a complementa na cadeia de valor, fecha-se então o círculo da eficiência máxima obtida com a maximização dos recursos livres de restrições e limites.

Pode parecer um pouco utópico um modelo operacional global como este, mas a Porsche já mostrou ser possível, assim como outras empresas como a Nike, por exemplo. Condições econômicas e tecnológicas já existem, surgem com muita facilidade numa sociedade capitalista. O grande problema ainda têm sido as barreiras políticas e culturais, que não caem com a mesma facilidade e acabam por reduzir a velocidade das mudanças que ocorrem no mundo inteiro.