O Brasil não está sozinho quando o assunto é a expansão exportadora. Um levantamento realizado pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) mostra que o país ocupa a 32ª posição no ranking dos países que tiveram maior crescimento de vendas externas nos 12 meses terminados em maio deste ano em relação ao período anterior.
Entre os principais emergentes, o Brasil está em 11º lugar. O estudo, realizado com base em dados do FMI (Fundo Monetário Internacional), leva em conta apenas os países para os quais existem informações até pelo menos março de 2004 e com exportações mensais acima de US$ 100 milhões.
“Não há milagre brasileiro. Por enquanto, surfamos em uma boa onda”, afirma Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi. “O Brasil está acompanhando, com alguma vantagem, é bom ressaltar, uma tendência mundial, o que não fazia desde os anos 70”, completa.
Na comparação dos 12 meses terminados em maio deste ano com o período anterior, as vendas externas brasileiras cresceram 20,2%, acima dos 19,4% dos países em desenvolvimento e da média mundial, de 16,9%.
O aquecimento do comércio mundial, apontam especialistas, é explicado, entre outros fatores, pela forte alta nas cotações de commodities como soja, aço e petróleo no primeiro semestre deste ano, pela explosão da demanda chinesa e pela alta do euro, que encareceu produtos europeus e abriu mercados.
“A Guerra do Iraque também beneficiou exportações indiretamente, já que os países árabes boicotaram produtos americanos e compraram mais de terceiros, entre eles o Brasil”, diz o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro.
De 1971 a 1980, as exportações mundiais aumentaram 20% em relação à década anterior. No período, o Brasil teve o mesmo crescimento dos países em desenvolvimento: 22,1%. Nos anos 80 e 90, o mundo cresceu, respectivamente, 5,9% e 9,1% ante as décadas anteriores, e o Brasil, 4,5% e 5,8%.
O grande salto para as exportações brasileiras e mundiais, ocorreu a partir de 2003: nesse ano, as exportações mundiais – que haviam crescido 4,9% em 2002 ante 2001 – cresceram 15,8%. O aumento das vendas externas brasileiras passou de 3,7% para 21,1%.
Se a comparação é janeiro a maio em relação ao mesmo período do ano passado, o crescimento brasileiro é de 25,3%, ou seja, a tendência é de aceleração das exportações. Nesse caso, o país se mantém na 32ª posição.
Desafio
Nesse cenário de competição acirrada, o desafio é manter o crescimento das exportações em 2005, um ano para o qual as previsões são de desaquecimento da economia mundial.
“A China está fazendo o possível para conter a expansão do PIB [Produto Interno Bruto], os Estados Unidos já mostraram neste último trimestre queda no ritmo de crescimento e as cotações das commodities devem cair no ano que vem”, cita Castro.
No setor de carnes, diz ele, o Brasil foi beneficiado por conta da vaca louca nos Estados Unidos e pela seca na Austrália, fatores que não devem se repetir em 2005.
Segundo a AEB, a previsão é uma produção de 60 milhões de toneladas de soja no ano que vem -neste ano, foram 49 milhões. “Se mantivermos o ritmo de embarques de minério de ferro, possivelmente vamos vender produtos e não conseguir entregar por falta de infra-estrutura em estradas e ferrovias. Isso precisa ser melhorado”, diz Castro.
Outra fragilidade citada por analistas é a dependência da pauta exportadora brasileira das commodities. “São artigos que têm volatilidade de preços muito grande, o que pode inverter uma situação que estava excelente para deficitária”, diz Renato Flores, professor da FGV-RJ (Fundação Getúlio Vargas) especializado em comércio exterior.
Para Almeida, isso está mudando. “Nossas exportações estão começando a sair dos produtos primários e estão indo para exportações de manufaturados, que são mais resistentes a esse tipo de confronto [variação de preços no mercado internacional].”
Ele ressalta, no entanto, a necessidade de um câmbio mais favorável. “A pauta está se diversificando, mas, se o câmbio não estiver no lugar certo, não adianta.”
Maeli Prado