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BNDES esnoba a pequena empresa

Guarulhos, 17 de abril de 2006

Uma das principais bandeiras do governo Lula, o microcrédito, anunciado como uma importante faceta social da política econômica, caminha para ter um desempenho pífio no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo monitoramento do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), que será divulgado hoje, os desembolsos aos micro e pequenos empresários caíram 80% entre 2002 e 2005, despencando de R$ 12,1 milhões para R$ 2,3 milhões.

A demanda no País por este tipo de crédito, segundo o Ibase, está em R$ 2 bilhões. “O BNDES, que tinha uma cultura de microcrédito, não conseguiu transformar isso em resultado”, afirma João Claudio Arroyo, ex-vice-presidente da Associação Brasileira de Operadores de Microcrédito e Crédito Popular, responsável pelo levantamento dos dados. Para João Roberto Lopes Pinto, coordenador do Ibase, o padrão de financiamento do BNDES é fortemente voltado para os grandes projetos e o banco move-se com dificuldade na hora de atender aos pequenos negócios, que têm forte impacto social em suas comunidades.

Carlos Lessa – O programa de microcrédito do BNDES passou por fortes turbulências durante a presidência de Carlos Lessa (hoje filiado no PMDB), em 2003 e 2004. Todo o programa anterior, do governo de Fernando Henrique Cardoso, foi colocado por ele sob crítica e suspeição, e novas regras, mais duras, foram estabelecidas. Em 2003, os desembolsos caíram para zero, e em 2004 foram de apenas R$ 800 mil.

O rigor de Lessa, segundo Ana Cristina Rodrigues da Costa, chefe do Departamento de Economia Solidária na área de Inclusão Social do BNDES, bloqueou a liberação de recursos, mas por outro lado, corrigiu distorções. Somente em 2005 é que a instituição pode lançar uma nova versão do programa. Hoje já existe uma carteira contratada de R$ 34,4 milhões, e mais consultas em análise de R$ 34,7 milhões. Em termos de liberações efetivas, foram R$ 2 milhões em 2006. A economista diz que a média de microcrédito do BNDES no governo FHC, de pouco mais de R$ 6 milhões ao ano, ainda é maior do que a do governo Lula, que na melhor da hipóteses chegará a algo entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões.

Na nova versão do programa, há uma ênfase nos repasses para agências estaduais de fomento e cooperativas, e os recursos são liberados de forma gradual, à medida que estas instituições intermediárias colocam 80% do que receberam como financiamento efetivo ao tomador final. Há operações de R$ 10 milhões contratadas com a Caixa RS, a agência de fomento do Rio Grande do Sul e de R$ 5 milhões com a Cooperativa Central de Crédito Cresol Baser, do Paraná, que abriga um total de 59 cooperativas regulares.