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BC mantém juros, mas crediário pode ficar mais caro

Guarulhos, 20 de junho de 2002

Apesar da decisão do Copom de não mexer na taxa Selic – hoje em 18,5% ao ano, o consumidor corre o risco de, em breve, pagar mais caro no crediário. É que as taxas no mercado futuro de juros, que são usadas pelos bancos para obter recursos para repassar aos consumidores, estão cada vez mais altas.

Com isso, mesmo que o Banco Central (BC) não mexa nos juros básicos da economia, pode ter aumento de custos para o consumidor. No início do mês, os juros futuros eram negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) a 18,60%, mas nesta quarta-feira dispararam para 23,95%.

Alteração não será imediata – Por hora, financeiras como Losango, Creditec e Fininvest garantem que as taxas cobradas no crédito direto ao consumidor não devem sofrer alteração. Mas garantem: estão de olho nas negociações na BM&F.

– O mercado futuro dita as regras. Se os juros continuarem elevados, pode haver repasse ao consumidor. Da mesma forma, se eles cederem, o crédito pode ficar mais barato – diz José Arthur Assunção, vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Crédito, Financiamento e Investimento (Fenacrefi) e diretor da ASB Financeira.

Além das taxas futuras, as empresas também observam o comportamento da concorrência. Segundo a Fininvest, se o mercado oferecer juros mais altos, a tendência será acompanhá-lo. Os índices de inadimplência também podem alterar os juros cobrados.

Para José Augusto Longa, diretor do banco BVA, o mercado não estimula grandes oscilações, mas se os juros futuros continuarem subindo, haverá aumento nas taxas.

O comércio varejista não prevê mudanças das taxas, pelo menos, este mês. As tabelas variam de 3,45% a 5,9% para venda em até 10 ou 12 vezes.

Várias redes ainda oferecem pagamento em até quatro vezes sem juros, mas se o consumidor negociar, os descontos nos produtos podem chegar a 7%.

– Continuaremos com as tabelas atuais. O mercado retraído e a instabilidade do dólar não estimulam mexidas – explicou Mário Arruda, gerente de marketing da Tele-Rio.

Redução da Selic anima – Mesmo com a expectativa de redução da Selic no próximo mês, os varejistas não devem mudar as suas tabelas de juros para o crediário. É o que confirma Assunção, o vice-presidente da Fenacrefi, que também é presidente do Sindicato das Financeiras do Rio e do Espírito Santo. Ele espera que as taxas fiquem estáveis até lá, com as médias de 9% para o crédito pessoal e de 3% para o lojista.

O Banco Central decidiu nesta quarta-feira manter a taxa básica de juros da economia (a taxa Selic) em 18,50% ao ano. No entanto, o BC adotou um viés (tendência) de baixa para taxa ” o que significa que agora a Selic pode ser reduzida a qualquer momento, mesmo antes da próxima reunião mensal do Comitê de Política Monetária (Copom), no fim de julho. Na avaliação do mercado financeiro, o BC tenta transformar o viés numa nova carta na manga para combater as turbulências do dólar, dos juros e da bolsa.

A estratégia seria mostrar ao mercado que o governo confia na sua própria capacidade de apaziguar a crise e que não adianta os bancos tentarem pressionar as taxas futuras de juros, porque, a qualquer momento, esses investidores poderiam ser prejudicados por uma redução na taxa básica. A adoção do viés seria, dessa maneira, mais uma arma do arsenal do BC, além das 11 medidas anunciadas semana passada no pacote do governo.

Patricia Eloy,Ledice Araujo e Luciana Rodrigues