O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já encaminhou ao ministro da Fazenda, Antônio Palocci, carta aberta explicando os motivos que levaram o governo a estourar o teto da meta de inflação no ano passado. O valor fixado pelo Conselho Monetário Internacional (CMN) para o IPCA, índice que serve de referência para o sistema de metas, era de 3,5% com um intervalo de variação de dois pontos porcentuais, para cima ou para baixo. Com isso, a inflação poderia chegar, no máximo, a 5,5%. No entanto, o IPCA acumulado em 2002 foi de 12,53%, mais de duas vezes o teto.
Nesta quarta-feira 22 de janeiro, o ministro da Fazenda divulgará o conteúdo da carta, que destacará a forte turbulência vivida no mercado de câmbio em 2002 entre os motivos que levaram a essa situação. Além disso, Palocci explicará os novos parâmetros que estão sendo perseguidos pelo governo. Ele já havia confirmado que não é intenção da equipe atual alterar a meta de 4% para este ano, com intervalo de variação de 2,5 pontos. No entanto, disse que o governo trabalhará com um prazo maior do que um ano para que a inflação retome a trajetória desejada.
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) que inicia sua primeira reunião na gestão de Henrique Meirelles, deverá orientar a sua decisão sobre a trajetória dos juros com base nesses novos parâmetros. Além da meta, que é chamada de meta ajustada, o ministro deverá dizer qual o prazo que a atual equipe avalia necessário para que a inflação volte a cair. A equipe anterior trabalhava com um período de 18 a 24 meses.
Ao assumir a presidência do BC, Meirelles enfatizou que o objetivo número um da sua gestão seria trazer a inflação de volta à trajetória das metas estabelecidas pelo CMN. Mas também deixou claro que isso não ocorreria “de forma instantânea, nem com artificialismos”. Segundo ele, “é prática comum entre os bancos centrais diluir a convergência da inflação corrente às metas em um período mais longo que um ano”. No caso brasileiro, onde a economia foi submetida a um choque de custos, isso é ainda mais importante.
No entanto, Meirelles não disse qual seria o prazo necessário para fazer a inflação voltar ao nível fixado. Como o governo não pretende mudar os valores já determinados para este ano e para 2004, é preciso saber também qual a meta ajustada que está servindo de orientação para as decisão do BC.
O mercado estima que, para este ano, o BC esteja trabalhando com uma meta ajusta entre 8% e 9%.
Sheila D´Amorim
