ACE-Guarulhos

Aumenta a oferta de imóveis para a classe média

Empreendimentos de alto padrão deixarão de ser o foco das grandes construtoras a partir deste ano. Company, Cyrela, Gafisa, Klabin Segall e Rossi são algumas das empresas especializadas na construção de empreendimentos sofisticados que já estão concentrando esforços para atender à demanda dos consumidores de poder aquisitivo um pouco mais baixo. A bola da vez será o segmento econômico, que abrange moradias mais compactas, de dois dormitórios, entre R$ 80 mil e R$ 200 mil, e que cabem no bolso da classe média e média-baixa, cuja renda mensal gira entre cinco e dez salários mínimos.

De acordo com especialistas do setor, queda dos juros, retomada do emprego e da renda familiar e ampla e diversificada oferta de crédito habitacional são fatores predominantes para a mudança de perfil e a explosão do mercado imobiliário brasileiro, a exemplo do que ocorreu no México nos últimos cinco anos.

Para o diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), Luiz Paulo Pompéia, o segmento de alto padrão está próximo do ponto de saturação. A oferta desse tipo de produto no mercado é muito grande. Por outro lado, imóveis de dois dormitórios têm demanda altamente reprimida. “O segmento que atende à classe média foi deixado de lado nos últimos anos, mas tem ótimas chances de recuperação”, afirma.

De acordo com Celso Amaral, diretor da Amaral d’Ávila Engenharia de Avaliações e do Geoimóvel, banco de dados do mercado imobiliário, o número de unidades residenciais lançadas em São Paulo com quatro dormitórios saltou de 2.947 em 2000 para 9.771 no ano passado, avançando de 10,4% para 34,7% do total de lançamentos em cada ano. Por outro lado, em 2000, 51,1% (14.465) dos lançamentos residenciais tinham dois quartos, ante 27,4% (7.703) em 2006.

Para o diretor-financeiro e de relações com investidores da construtora e incorporadora Company, Luiz Rogélio Rodrigues Tolosa, o mercado de classe média é uma ótima opção para a expansão dos negócios. Segundo ele, a demanda por imóveis na faixa de R$ 100 mil é de aproximadamente 20 mil unidades por ano. “É um mercado altamente promissor”, ressalta.

Pioneirismo – Algumas construtoras têm os olhos voltados para o segmento econômico já há algum tempo. De acordo com a gerente de marketing da Klabin Segall, Marcella Carvalhal, a incorporadora é pioneira em atuar no segmento de condomínios residenciais voltados às classes média e média-baixa, e pretende reforçar essa estratégia de atuação neste ano.

“Enquanto a maioria dos players de mercado lançava empreendimentos no topo da pirâmide, desde 1998 a Klabin Segall vem investindo nas camadas intermediárias de renda”, comenta a especialista. Segundo ela, o primeiro lançamento da modalidade foi o Project Home, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, com unidades de R$ 200 mil.

Em 2000, a empresa lançou o Cores da Barra, na Barra Funda, zona oeste da capital, com apartamentos de 93 metros quadrados e preço médio de R$ 100 mil. Em 2005, foram lançados cinco empreendimentos residenciais em São Paulo e no Rio de Janeiro. Desse montante, dois foram destinados à classe média-baixa: o Cult, nos Campos Elíseos, região central de São Paulo, com 316 unidades e preços a partir de R$ 72,9 mil; e o Cores da Lapa, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, com 688 apartamentos a partir de R$ 88,1 mil.

Já no ano passado, a empresa lançou oito empreendimentos residenciais nas mesmas cidades. O Arena Park, no Méier, zona norte carioca, com 989 apartamentos, foi destinado à classe média baixa.

Para este ano, a Klabin Segall estima lançar entre 11 e 13 prédios residenciais. “Desses, cinco serão voltados à classe média-baixa”, destaca a gerente de marketing.

Novo conceito – Benefícios de apartamentos de médio padrão aliados a uma planta otimizada criaram o conceito Mundo Apto, linha de empreendimentos voltados à classe média, desenvolvido pela construtora e incorporadora Setin em 2004.

Composto por dez edifícios localizados em seis bairros paulistanos – Barra Funda, Cambuci, Ipiranga, Santana, Saúde e Vila Alexandrina – e totalizando 1172 unidades, o Mundo Apto alia recursos para tornar mínimos os impactos ao meio ambiente – como sistemas de aquecimento por energia solar e reúso de águas – de toda a infra-estrutura de serviços que um empreendimento residencial pode ter.

“Apesar desses diferenciais eco-sustentáveis, que agregam valor ao imóvel e aumentam o preço inicial, a planta inovadora e a fachada pré-moldada geram economia no custo da obra. Isso influencia o preço final, que varia entre R$ 120 mil e R$ 160 mil”, ressalta o gerente de relações institucionais da empresa, Daniel Setin. “É como comprar um carro econômico com benefícios de uma Ferrari.”

Marca – A construtora Cyrela criou uma marca diferenciada – a Living – para representar o segmento mais econômico, porém, não popular. A linha abrange apartamentos de um, dois e três dormitórios, entre 50 e 70 metros quadrados, com preços entre R$ 80 mil e R$ 140 mil. Desde o início de dezembro, já foram lançados cinco empreendimentos localizados nos bairros de Vila Matilde, Freguesia do Ó e Jardim Aeroporto, na capital, além de um em Guarulhos, na Grande São Paulo, e outro em Jundiaí.

Segundo executivos da empresa, os empreendimentos localizados na Freguesia do Ó e na Vila Matilde já estão com 100% das unidades vendidas. De acordo com os dados do balanço trimestral de 31 de setembro de 2006, a Cyrela destaca a aquisição, por meio de “joint ventures” e associações com outras construtoras e incorporadoras, de 11 terrenos destinados ao mercado de moradia mais econômica, os quais totalizam 467,5 mil metros quadrados, com valor potencial de vendas (VGV) de R$ 773,9 milhões.

Lançamento – Com o intuito de contribuir para a redução do déficit habitacional brasileiro, o Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais de São Paulo (Inocoop-SP), uma organização sem fins lucrativos de direito privado, lançará neste mês o empreendimento Residencial Jardim Sul, no bairro do Morumbi, um dos mais nobres da capital, para as famílias inscritas no instituto.

“Escolhemos a região pela qualidade de vida que oferece. Além de ser um bairro com muito verde, tem ótima infra-estrutura, com escolas, shoppings, hospitais, parques e é próximo a grandes vias de acesso”, conta o diretor-superintendente do Inocoop, Richard Moreton Treacher. “Queremos acabar com o paradigma de que não se pode oferecer moradias a preços mais acessíveis em bairros nobres”, acrescenta.

O empreendimento terá uma única torre de nove pavimentos, com 36 unidades de dois dormitórios, sendo uma suíte, e uma ou duas vagas na garagem. Cada unidade pode ser paga com uma pequena entrada (não revelada e variável) e mais 15 parcelas entre R$ 900 e R$ 1,5 mil durante a construção. O restante é financiado, totalizando entre R$ 118 mil e R$ 150 mil.

 

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