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As lojas também querem um feliz natal

Natal, ano novo, férias e início do verão tradicionalmente incentivam a economia de final de ano. Mas, em 2003 o aumento do movimento parece estar ameaçado. Pelo menos, é essa a impressão que se tem ao descobrir que apenas 40% dos paulistanos pretendem comprar presentes neste Natal. A informação faz parte da pesquisa sobre consumo encomendada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) à Toledo & Associados. Para os especialistas em varejo, porém, essa estatística pode mudar até o dia 25 de dezembro. Isso, no entanto, vai depender, em grande parte, do empenho do comércio em seduzir o consumidor.

O economista e diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal da ACSP, Marcel Solimeo explica que há dois aspectos que devem ser considerados. O primeiro é que no momento da pesquisa, as pessoas ainda estavam ressentidas com as dificuldades que enfrentaram o ano todo, como queda real de renda. O outro é que a maioria não considera as compras de uso pessoal ou para a casa como presente.

“Se levarmos em conta esses dois fatores, acredito que tanto o número de pessoas que irão presentear quanto o valor médio a ser gasto, que na pesquisa é de R$ 230, tende a subir”, diz Solimeo. Ele aponta a queda da taxa de juros como mais um atrativo, pois permite que o comércio tenha maior segurança para oferecer prazos mais longos de pagamento.

Outro dado que colabora para o otimismo é que, até outubro, mais de 2,3 milhões de consumidores inadimplentes conseguiram limpar o nome e recuperaram o crédito em São Paulo. “Isso significa um aumento de 8% em relação ao mesmo período de 2002, que já havia sido bom. Vamos ter todas essas pessoas aptas a comprar”, diz o economista.

13° salário – O próprio diretor geral da Toledo & Associados, Francisco José de Toledo, responsável pela pesquisa, acredita que ela reflete o momento anterior ao recebimento da primeira parcela do 13° salário. “Em setembro realizamos uma pesquisa que apontou que os consumidores estavam dispostos a gastar em média R$ 400 em presentes. Na sondagem feita para a ACSP, esse valor caiu para quase a metade. Mas, devemos considerar que a imprensa noticiava que diversas empresas e até prefeituras não iriam pagar o abono. Ou seja, as pessoas estavam apreensivas e isso se refletiu nas respostas”, explica.

Ele acredita que, com a proximidade do Natal, o aspecto psicológico influencie positivamente. “Mesmo que a pessoa tenha pouco dinheiro, ao menos uma lembrancinha ela acaba comprando.” Na opinião de Toledo, o percentual de quem comprará presentes deve subir para 60%.

Emoção – Toledo não está sozinho em sua opinião. O consultor de varejo Sérgio Almeida, especialista em desenvolvimento da cultura de relacionamento com o cliente, confirma que o fator emoção será decisivo na hora da compra. “Existe um termo que chamamos de marketing de emoção, que reverte a tendência de retração. Ele acontece quando as empresas utilizam recursos como uma bonita vitrine ou condições de pagamento diferenciadas, por exemplo. Isso quer dizer que, no balanço final, o percentual de consumidores que comprarão presentes será muito maior que o apontado na pesquisa”, diz.

A opinião de Almeida confirma a tese de que o varejo tem de se empenhar nas ações de incentivo às vendas, defendida pelo presidente da ACSP, Guilherme Afif Domingos. Afif destaca a importância da iluminação natalina para afugentar a crise e atrair o consumidor.

Perigo – O movimento conhecido com “xô crise” ganha ainda mais relevância com o alerta feito pelo coordenador do Programa de Administração de Varejo da FIA/USP (Provar), Luiz Paulo Lopes Fávero. “Cerca de 45% da população economicamente ativa é empregador, autônomo ou desempregado, contingente que não possui 13º salário”, diz. Mais um motivo para os comerciantes se esforçarem para levar o consumidor a colocar a mão no bolso.

Patrícia Büll

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