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Artesanato gera a mesma riqueza que a indústria automotiva

Guarulhos, 20 de março de 2002

Transformando a matéria-prima em arte com as próprias mãos, os 8,5 milhões de artesãos brasileiros produzem e comercializam o equivalente a R$ 28 bilhões por ano. Esta cifra representa 2,8% do PIB nacional, quase o mesmo que o da indústria automobilística, com duas diferenças fundamentais: gera trabalho para muito mais pessoas e produz artigos genuinamente brasileiros. Hoje é o dia nacional do artesão, categoria que se caracteriza pela mão-de-obra familiar e pela informalidade.

No Paraná, estima-se que existam mais de 25 mil artesãos e produtores manuais e perto de 350 associações e cooperativas de artesanato. Profissionais como Rubens de Campos Regniel, que junto com a esposa Jacira, vive há 14 anos exclusivamente do trabalho manual. “Hoje, sou o meu próprio patrão. Trabalho mais e ganho mais, também”, comemora ele. Regniel mantém uma barraca na feirinha do Largo da Ordem e participa também de feiras temáticas, como a da Páscoa, da Praça Osório.

Valorizado como uma forma de expressão cultural, o artesanato mereceu uma ação conjunta entre a Universidade Livre do Artesanato e Cultura Popular (Uniart), Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/PR) e Agência de Promoção de Exportações (Apex), por exemplo, está pesquisando os mercados da Itália, França e Portugal para 20 produtos. Além de capacitação, a Uniart também oferece microcrédito, com empréstimos a partir de R$ 300,00. Nas quatro lojas da universidade, são comercializadas cerca de 6 mil peças por mês e o faturamento de cada loja está estimado em R$ 50 mil.

Pesquisa

Uma pesquisa, com o objetivo de identificar traços culturais, folclóricos, gastronômicos e recursos naturais nas regiões de Antonina, Morretes, Paranaguá e Ilhas foi feita recentemente pelo Sebrae. O resultado do projeto “O artesanato que o turista quer levar na bagagem” é um diagnóstico do que pode ser aperfeiçoado no trabalho dos artesãos da região. “Esta é uma contribuição para o resgate da cultura dos municípios e que identifica a comunidade através de sua expressão no artesanato”, ressalta José Carlos Gomes Carvalho, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/PR.

A pesquisa revelaa necessidade deste trabalho quando se observa as obras da região. “São peças que podem ser encontradas em qualquer lugar. É isto que precisa ser mudado. É preciso que os artesãos percebam a importância de uma identidade cultural”, comentam os consultores do Sebrae. “Eles não têm a noção desta necessidade e executam praticamente todas as peças descomprometidas com as características que identifiquem uma região, não atraindo desta forma, turistas que queiram levar um artesanato original”.

A parceria entre Sebrae/PR, Uniart e Secretaria de Estado da Criança e Assuntos da Família, além de toda a comunidade, envolve o governo municipal, proprietários de hotéis, pousadas, restaurantes, lojas de artesanato e presentes, locais onde os produtos serão comercializados posteriormente.

De artesão a fornecedor

O artesão Orestes Salvio Basquerote começou trançando cestas de vime no bairro curitibano de Santa Felicidade e hoje é um dos maiores produtores de matéria-prima para artesanato do país, com faturamento bruto de R$ 1 milhão/ano. Dono de uma plantação de vime em Santa Catarina, o paranaense fornece o material para 14 estados brasileiros. São cerca de 600 toneladas/ano, produzidas numa fazenda de 150 alqueires e mais de 3 milhões de pés plantados. Basquerote produz vime nacional e importado e, além do mercado brasileiro, já exporta para o Chile e agora está de olho no mercado espanhol e mexicano. “O vime nacional é de melhor qualidade, pois é mais resistente”, explica. A meta do produtor é, em três anos, produzir um milhão de quilos do produto e faturar R$ 3 milhões/mês.

RAQUEL SANTANA