Argentina e Brasil: guerra anunciada
Representantes dos governos do Brasil e da Argentina sentam à mesa de negociações para tentar deter a escalada de conflitos que promete reeditar a guerra comercial que confrontou os dois países em 1999. O protagonista dos conflitos é a venda de eletrodomésticos “made in Brazil” para os argentinos, que o governo do presidente Néstor Kirchner pretende restringir. Só que a guerra está se espalhando rapidamente para outros setores, caso dos têxteis, suínos, calçados, móveis, automóveis, transporte e máquinas agrícolas.
No meio da “Guerra das Geladeiras”, como foi batizada ironicamente a disputa comercial dos eletrodomésticos, chega à Buenos Aires o secretário-geral do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Márcio Fortes, acompanhado por um grupo de empresários na capital argentina. Há um clima tenso com as sombrias previsões empresariais de que as reuniões terão desfechos negativos. Manfredo Arheit, presidente da Associação de Industriais Metalúrgicos da Argentina (Adimra), que reúne os principais fabricantes de eletrodomésticos do país, considera as chances de acordo escassas. “Nenhum dos dois vai ceder”, sustenta.
Restrições – Na semana passada o ministro argentino da Economia, Roberto Lavagna, anunciou a aplicação de licenças não-automáticas para a entrada de eletrodomésticos de linha branca provenientes do Brasil. O anúncio, realizado na véspera da cúpula do Mercosul, na cidade de Puerto Iguazú, caiu como um balde de água fria no encontro presidencial. Para a importação de televisores, a Argentina anunciou a aplicação de uma tarifa protecionista de 21%.
Efeito dominó – A “Guerra das Geladeiras” está causando um efeito dominó, já que diversos setores empresariais argentinos não querem perder a chance de conseguir vantagens alfandegárias ou fiscais. Esse é o caso das fábricas de máquinas agrícolas, que também alegam uma “invasão” brasileira. Segundo o setor, as máquinas brasileiras já ocupariam 80% do mercado argentino.
Outro setor que está pintando o rosto com as cores de guerra é o de suínos. Os empresários representados pela Associação de Produtores de Suíno sustentam que estão sendo colocados em xeque por causa dos baixos preços brasileiros. O argumento é que o acordo assinado em abril passado por empresários dos dois países estabeleceu que o preço mínimo para a entrada de suínos brasileiros seria de US$ 1.850 a tonelada. No entanto, registraram-se casos de US$ 1.300.
Transporte – O governo argentino já sinalizou também que vai rever o acordo automotivo, em vigor desde o final de 2000, e deu mostras de que vai tentar bloquear novamente a passagem de caminhões brasileiros. Segundo uma fonte da secretaria de Transportes argentina, apesar do presidente Néstor Kirchner ter suspendido a medida anunciada na semana passada, o assunto não será esquecido. Os caminhões brasileiros que circulam entre Brasil e Chile podem ser obrigados novamente a utilizarem somente o trecho entre Paso de Jama e Dionísio Cerqueira (SC).