O objetivo é o aproveitamento da água de chuva para fins não potáveis em áreas urbanas. Isto fará com que a água das concessionárias públicas sejam usadas para fins mais nobres, pois, é um contra-senso usarmos 40% da água potável inclusive com flúor para descarga das bacias sanitárias.
A água de chuva pode ser usada para: irrigação de jardins, descargas nas bacias sanitárias, reservatórios de incêndios e uso comercial /industrial com fins não potáveis.
A captação da água de chuva se faz através dos telhados dos seguintes materiais: telha de barro, fibro-cimento, chapa galvanizada, piso cimentado ou ladrilhado e outros tipos de cobertura.
Utilizando água de chuva em uma cidade a economia global é estimada em 15% da água pública. Para casos particulares a economia de água é variada, e como exemplo, citamos um posto de gasolina em Guarulhos cujo consumo reduziu 50%, usando água de chuva.
No Texas a cidade de Austin incentiva o uso da água de chuva, fornecendo US$500 a quem instalar sistema de captação de água de chuva e em Hamburgo US$ 2000. No Brasil, ao contrário, as concessionárias punem quem usa água de chuva, cobrando a tarifa de esgoto total, mesmo quem as destina à lavagem de pátios e irrigação de jardins.
Futuro: sistema dual de distribuição de água fria (potável e não potável)
Teremos no futuro um sistema dual de distribuição de água fria, sendo um para água potável e outro para água não potável. O sistema de distribuição de água não potável é destinado principalmente a descargas de bacias sanitárias.
Aproveitamento de água de chuva através dos séculos
Uma das inscrições mais antigas do mundo é a conhecida Pedra Moabita, encontrada no Oriente Médio, datada de 850 a.C. Nela, o rei Mesha dos Moabitas, sugere que seja feita uma cisterna em cada casa para aproveitamento da água de chuva.
No palácio de Knossos, na ilha de Creta, a aproximadamente 2000 a.C., a água de chuva era aproveitada para descarga em bacias sanitárias.
A famosa fortaleza de Masada, em Israel, tem dez reservatórios cavados nas rochas com capacidade total de 40 milhões de litros.
Normas para aproveitamento de água de chuva
Não há normas brasileiras sobre o aproveitamento de água de chuva.
Na Alemanha temos o projeto de norma DIN 1989 destinado à utilização de água de chuva.
Yamagata et al, 2002 cita que no Japão o consumo de água não potável em um edifício é de aproximadamente de 30%.
O regulamento do governo metropolitano de Tokyo de 1984 obriga que todo prédio com área construída maior que 30.000m2 ou quando o consumo do prédio for maior que 100m3/dia de água não potável, que seja feito o aproveitamento da água de chuva e/ou reúso dos esgotos sanitários.
Componentes principais para captação de água de chuva
Os componentes principais para captação de água de chuva são:
Área de captação – Geralmente são os telhados das casas ou indústrias. O telhado pode estar inclinado, pouco inclinado ou plano.
Calhas, condutores – Para captação da água de chuva são necessárias calhas e coletores de águas pluviais que podem ser de PVC ou metálicos.
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A primeira chuva, que contém muita sujeira dos telhados, pode ser removida manualmente com uso de tubulações, que podem ser desviadas da cisterna ou automaticamente através de dispositivos de auto-limpeza em que o homem não precisa fazer nenhuma operação conforme se pode ver na seta da Figura (1).
Peneira – Para remover materiais em suspensão usam-se peneiras com tela de 0,2mm a 1,0mm.
Reservatório (cisterna) – Pode ficar apoiado, enterrado ou elevado e podem ser de concreto armado, alvenaria em tijolos comuns, alvenaria em bloco armado, plásticos, poliéster, etc.
Extravasor – Deverá ser instalado na cisterna um extravasor (ladrão) que deverá possuir dispositivo para evitar a entrada de pequenos animais.
Desinfecção – É aconselhável a desinfecção das águas de chuva com cloro residual de 0,5mg/litro, que pode ser feito no bombeamento das águas pluviais, usando uma pequena bomba dosadora de cloro.
O custo da água armazenada, de aproveitamento de água de chuva, incluindo as canalizações, instalação elétrica, bomba centrífuga flutuante, dispositivo automático de limpeza com filtros, reservatório em polipropileno ou chapa de aço inox, etc é de US$ 200/m3.
Na Figura (1) temos dois reservatórios de aço inox fabricado em Guarulhos com 3.000litros cada.
Figura (1)- Dois reservatórios de aço inox com 3.000 litros cada. Observar o filtro (seta).
Método Prático
Para uma região onde a precipitação média anual é de 1500mm, poderá ser captado 50% ou seja, 750mm/ano e a média mensal é de aproximadamente 60mm. Como 1mm corresponde a 1 litro por metro quadrado, então teremos a taxa de 60 litros/m2. Isto garantirá uma probabilidade aproximada de 85% para que o sistema funcione bem.
Exemplo: um telhado com 200m2 poderá captar:
200m2 x 60 litros/m2= 12.000litros= 12m3
Portanto, podemos usar 12m3 de água de chuva durante um mês e fazer um reservatório com 12m3. Caso haja previsão de dois meses de seca o reservatório deverá ter 24m3 para se retirar mensalmente 12m3.
Benefício/Custo
É comum a análise da relação benefício/custo ou o uso do pay-back para saber se compensa ou não usar água de chuva.
A viabilidade é clara para os consumidores das categorias comerciais e industriais e para casas com áreas acima de 300m2 No que se refere a pequenas residências, a viabilidade fica prejudicada, pois, o subsídio da água pública chega até 20m3 mensais.
Conclusão:
Muitas indústrias, shoppings, supermercados e prédios de apartamentos, já estão usando a água de chuva para fins não potáveis; inclusive a Prefeitura Municipal de Curitiba (ano 2003) e Prefeitura Municipal de São Paulo (ano 2005) já possuem leis a respeito.
A economia global da água para as concessionárias de água com o uso de água de chuva é de aproximadamente de 15% do total que é um volume considerável.
Em regiões, onde a disponibilidade hídrica social é menor que 1200m3/ano x habitante, deveria ser incentivado o uso da água de chuva e o reúso dos esgotos sanitários, como é o caso da Região Metropolitana de São Paulo, onde dispomos somente de 201m3/ano x habitante.
Engenheiro civil Plínio Tomaz
pliniotomaz@uol.com.br
Plínio Tomaz é presidente do Conselho Deliberativo do SAAE de Guarulhos, Diretor de Ciências e Tecnologia da ASSEAG, Conselheiro do CREA-SP e prof. das Faculdades Integradas de Guarulhos (FIG).