Não se esforça para acertar, mas para não errar. Fica na retranca. Passa a ter uma perspectiva incrementalista de obtenção de pequenas vitórias, porém seguras, mesmo que à custa do abandono e da perda das oportunidades. Conforma-se “com o feijão-com-arroz” do cotidiano e da rotina, “fazendo apenas o que está no gibi”, para não ter que se expor, ousando e desafiando o status-quo, explorando as oportunidades.
Mude radicalmente a maneira como você percebe e trata o erro, seja pessoal ou de sua equipe. Quando ocorrer, diga para você mesmo e compartilhe com os demais:
a) Tanto os erros como os acertos são passos necessários de aprendizagem para mim e minha equipe
A ordem do progresso é a mudança. Quem não consegue mudar a si mesmo, não muda coisa alguma. É “errando que se aprende”. Parafraseando Bertold Brecht: “não me importunem, estou ocupado, preparando meu próximo erro”. O modo de lidar com erros indica a capacidade de a equipe construir um clima de maturidade e revelar novos caminhos.
b) Se não houver tentativas, ensaios, erros e acertos também não haverá progresso, mudança, inovação
Todas as idéias devem ser experimentadas para que uma delas dê resultados. Mas só descobriremos a idéia criativa se acreditarmos em todas as demais. O melhor do homem é a inquietude, porque senão prevalecem a omissão, a indiferença e a apatia. O líder não tem compromisso com o fracasso e o erro. Deve se envolver permanentemente com o que está à sua volta. A insatisfação é o primeiro passo para a transformação e a mudança. É preciso, no entanto, que não nos deixemos arrastar pelo cipoal de minúcias e filigranas, e não queiramos prever, com precisão matemática, a visualização de cenários, o momento de cada ação, a forma prática de cada decisão ou a extensão exata de cada lance.
c) Cometo erros e equívocos sem medo de errar, procurando acertar, mas na convicção de estar fazendo o melhor
Precavenho-me contra eles da forma mais inteligente e prudente que puder. Não corro o risco pelo risco, pois me asseguro de redes de proteção que minimizem a incidência do insucesso. Valho-me sempre da experiência dos membros de minha equipe e a de meus superiores. O líder deve, naturalmente, compreender que não é perfeito, que as pessoas que trabalham com ele não são perfeitas e que sua organização não é nem será perfeita. Deve avaliar continuamente seus próprios pontos fortes e fracos, bem como os de sua equipe e de sua organização, com a intenção de contornar as dificuldades e liderar com base nas forças em todos os níveis, superando as fraquezas de cada um – inclusive de si próprio – com as forças dos outros. Admita que seus liderados possam ser capazes, ao menos potencialmente, de liderar a sua equipe ou mesmo a sua organização na sua ausência. A premissa poderá parecer descabidamente elogiosa para a maioria dos colaboradores e bastante depreciativa da indispensabilidade do executivo. Ainda assim, ela corresponde bem mais aos fatos demonstrados pelas pesquisas do que a hipocrisia que ainda permeia grande parte do folclore da administração sobre o tema.
d) Não participo do jogo da vida na defensiva, restrito à busca de segurança, de autoproteção, de justificativas e de explicações para as derrotas
Muito menos me contento com os louros obtidos nas vitórias. Quero ir mais longe, para frente. Mas me precavenho contra o narcótico do sucesso. A vitória relaxa a crítica, afrouxa a disciplina e deteriora o desempenho.
e) O meu compromisso é com o sucesso e a vitória, mas estou pronto a aceitar quaisquer resultados adversos como parte do processo de participação
Tento de novo, fracasso de novo, fracasso melhor. Aprendo com eles e parto para outra. Sigo em frente porque atrás vem gente querendo me ultrapassar. Nunca é tarde para tentar o desconhecido, nunca é tarde para ir mais além. Começo de novo, começo outra vez e sempre será o começo do infinito, por mais que comece. Seremos o que o tempo nos vá indicando que devamos ser, de acordo com o que formos construindo, caminhando. Mas o que iremos ser, aonde vamos chegar não pode ficar apenas ao sabor das circunstâncias, como um barco à deriva. Precisa ser uma decorrência inelutável da nossa vontade individual e coletiva de determinar o nosso destino.
O verdadeiro líder é sempre um bom ator
Na crise, sabe como desencapsular as emoções de que necessita para vencer as dificuldades, a despeito da perplexidade que intimamente possa estar sentindo. Na representação de papéis, como o ator no palco, aprende a separar o seu eu-oculto (líder enquanto pessoa) do seu papel de líder de pessoas e de equipes (pessoa enquanto líder).
O seu eu-oculto expressa como de fato o indivíduo se sente enquanto pessoa, emocional e fisicamente, diante da crise. A representação de seu papel de líder expressa como precisa se sentir, enquanto profissional, para responder adequadamente aos imperativos da situação de crise. No desempenho desse papel, tem que controlar os seus sentimentos íntimos de medo e de apreensão para agir com racionalidade e ponderação. Precisa aprender a artificializar o seu comportamento como um ator em cena.
Por exemplo, imagine-se num vôo da ponte-aérea Rio/São Paulo em que o avião sofra fortes turbulências logo após decolar. Em poucos minutos o vôo se torna um inferno: o avião joga como uma montanha russa descontrolada. Dentro da cabine pastas e valises dos passageiros despencam do compartimento de bagagem sobre o corredor e as cabeças dos passageiros. Pessoas vomitam, rezam, soluçam e esbravejam. Numa situação dessas, você também ficaria aterrorizado.
Diante da crise em que nada podemos fazer, é hora de transformar o medo em fantasia, a realidade em ficção, o sentimento desconfortável do momento na imaginação de situações agradáveis de devaneio. Feche os olhos, abstraia-se da situação que está vivendo e deixe-se embalar pela fantasia.
É inteligente deixar-se consumir pelo medo?
Se houver a mínima possibilidade de escapar num pouso forçado em caso de acidente, você alcançará a porta de saída do avião mais rapidamente se estiver se consumindo pela ansiedade de que nada pode fazer a não ser esperar pelo desfecho dos acontecimentos?
Talvez não seja a turbulência propriamente que o faça sentir tão mal, mas a sua resposta física e psicológica à turbulência. Tire partido da adversidade, controle suas emoções! Recoste a cabeça na poltrona, e se deixe divagar, fantasiar, abstrair-se da realidade que o incomoda, principalmente produzida pelo sentimento de impotência e de dependência. Pense e visualize momentos agradáveis, engraçados e auto-realizadores. Divirta-se com eles. Ria. Vivencie-os intensamente como se fossem a própria realidade. É provável que assim consiga enganar os seus sentimentos. Ao final do vôo, talvez seja um dos poucos passageiros a desembarcar com um sorriso nos lábios, não de pânico ou de alívio, mas de serenidade por ter controlado suas emoções. Esta é a representação de seu papel de líder. Assumir como verdadeira uma segunda natureza, apreendida da artificialidade do controle de suas emoções.
Reflita sobre um outro exemplo: imagine-se agora chegando à casa exausto após um estressante dia de trabalho. O seu eu-oculto anseia por algum tempo solitário de relax para recarregar as baterias. À porta de casa, no entanto, a sua esposa o espera para ir ao supermercado. Ao invés de jogar-se na poltrona mais próxima e deixar-se ficar, você se vê envolvido com as tarefas domésticas do marido moderno. É a representação de seu papel social. O desempenho do executivo será tanto melhor quanto for capaz de compatibilizar o seu eu-oculto com o seu papel social. A expansão do indivíduo enquanto pessoa deve acarretar sinergia ao desempenho da pessoa enquanto profissional. E vice-versa, a representação do papel deve agregar ao indivíduo maturidade, serenidade e equilíbrio, aprendizagens adquiridas a partir da experiência gerencial vivenciada, fundamentais ao aprimoramento da pessoa investida na condição de líder.
Wagner Siqueira