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Analistas têm perspectivas positivas para a Bovespa

Em termos de volume de negócios e de valorização, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chega ao fim do ano sem ter muito o que comemorar – de acordo com cálculos preliminares de analistas, o giro de negócios deve ter queda em torno de 10% este ano. As inéditas iniciativas para o fortalecimento do mercado de capitais brasileiro que monopolizaram as atenções ao longo do ano, no entanto, tornam positivas as perspectivas para a bolsa de valores em 2003.

Exatamente em um ano de eleições presidenciais, ganharam corpo discussões como a criação de um plano diretor para o desenvolvimento do mercado de capitais, a elaboração de estratégia para popularizar o investimento em ações, a adoção de práticas mais transparentes no relacionamento entre empresas e acionistas e a ampliação do uso do FGTS para a compra de ações.

Reação – A percepção dos analistas é de que esse movimento fará o mercado acionário reagir nos próximos anos. “Estamos otimistas em relação a 2003. As iniciativas e discussões deste ano devem começar a dar resultado no próximo ano, embora por enquanto não sejam suficientes para apagar os prejuízos que o mercado de ações teve nos últimos quatro anos”, avalia Eduardo Lobo Fonseca, diretor-gerente da corretora Souza Barros. De fato, compensar as perdas que a bolsa de valores teve com a cobrança da CPMF, a transferência de ações para o mercado americano e a privatização em bloco de estatais, só para citar três fatores de enfraquecimento do mercado desde 1997, demanda mais tempo.

Pequenos investidores – Diante da cautela dos grandes investidores, que têm reestruturado suas operações para minimizar os riscos, a atenção dos analistas no Brasil volta-se para os pequenos aplicadores. Em 2002, o aumento do interesse de pessoas físicas pelas ações começou mesmo antes de a Bovespa fazer propaganda do investimento em renda variável. Em janeiro, as pessoas físicas respondiam por 17,7% do total negociado na Bovespa, porcentagem que passou para 24,4% em novembro. A expectativa é de que, mantido o crescimento da participação desses agentes no mercado, os pequenos patrocinem a recuperação do mercado de ações brasileiro nos próximos anos, já a partir de 2003.

Boas relações – São boas notícias nesse sentido a atenção do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva à autorização para o uso de recursos do FGTS na compra de ações e o interesse de cada vez mais empresas pelo bom relacionamento com acionistas. “Houve, ao longo de 2002, amadurecimento das relações entre os investidores e as companhias abertas. Esse avanço reforça o papel fundamental do pequeno investidor na estabilidade da estrutura de capital das empresas”, observa o consultor Mauro Giorgi. Não é à toa, segundo ele, que empresas que melhoraram a relação com os acionistas destacaram-se entre as melhores opções da Bolsa em 2002.

Diversificação – Para Fonseca, da Souza Barros, as iniciativas deste ano foram válidas e já representam um grande avanço, mas só terão efeito se o objetivo primordial for a diversificação de investidores no mercado. “Nosso mercado precisaria ter pelo menos um milhão de investidores, muito mais que os 100 mil atuais”, afirma. “Hoje, operam na bolsa investidores com interesses parecidos, o que os leva a adotar comportamentos semelhantes em momentos de crise. Seria fundamental para o crescimento desse mercado que houvesse investidores com outras motivações. Isso tornaria mais improvável a instabilidade que vemos hoje”, destaca.

Reserva – Para ele, a depressão do mercado nos últimos anos também foi fruto da saída de grandes investidores, que devem ser compensados pelos pequenos aplicadores. Fonseca considera a troca difícil, mas saudável para o mercado de ações brasileiro. “Uma bolsa de valores precisa contar com os recursos administrados por especialistas, mas também com dinheiro de quem quer apenas ter reservas para os filhos e netos”, completa.

Rejane Aguiar

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