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Alta dos juros: Vendas a prazo ficam comprometidas

A elevação da taxa básica de juros – Selic – para 26,5% ao ano e o aumento do compulsório sobre os depósitos à vista, de 45% para 60%, continuam a produzir repercussões na economia, na maioria das vezes, desfavoráveis. As medidas prejudicam muitoas vendas a prazo do comércio neste primeiro semestre. A avaliação é de Marcel Solimeo, diretor do Instituto Gastão Vidigal de Economia Comercial de São Paulo (ACSP).

Para ele, o primeiro semestre está praticamente perdido, em termos de resultados para o varejo, pois não se pode esperar um crescimento mais significativo das vendas. “No máximo, o comércio vai empatar com o primeiro semestre de 2002”, complementa.

Pressão – O economista diz que o comércio está pressionado pelas baixas vendas, aumento do custo de financiamento e alta das tarifas de serviços públicos. Ele afirma que a retirada de R$ 8 bilhões de circulação na economia com ocompulsório provocará ainda maior retraçãono crediário, alta dos juros de finaciamento e menor procura por produtos que dependem de vendas a prazo (como bens duráveis: geladeiras, carros…).

A menor expectativa de faturamento reduz a possibilidade de criação de empregos na economia, afirma. Solimeo considera que a utilização de aumento o compulsório de 45% para 60% dos depósitos á vista é uma medida que tem vantagens para o Tesouro Nacional.

Se o Governo ampliasse a taxa Selic em dois ponto porcentuais, por exemplo, ampliaria as despesas públidas com juros.

O aumento do depósito compulsório para os bancos cria uma demanda obrigatória para os títulos públicos e o governofinancia sua dívida com menor custo, declara.

Efeitos ruins – Para os comerciantes, o efeito das medidas é “menos dinheiro em circulaçãoe maior custo de capital de giro”, afirma. Perguntando se o compulsório terá efeito sobre as taxas de câmbio – reduzindo a pressão inflacionária sobre produtos importados- Solimeo diz que só haverá uma queda nas cotações do dólar se hovesse especulação motivada “por muito dinheiro nas tesourarias dos bancos”.

Caso a elevada taxa do dólar esteja mais vinculada ao cenário instável externo e escassez de entrada da moeda estrangeira no País, então o efeito do compulsório sobre a cotação do dólar será mínimo, diz Solimeo.

Para o ano todo, o diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal diz que ainda é muito cedopara fazer previsões. “Mesmo que o Banco Central comece a reduzir o juro básico da economia em abril ou maio, isso só terá influência sobre o segundo semestre”.

Economistas contra – A medida do Comitê de Política Monetária (Copom), que aumentou de 25,5% para 25,6% a Selic, anunciada na quarta-feira, 19, também foi criticada pelas entidades econômicas de São Paulo (Conselho Regional de Economia, Ordem e Sindicato dos Economistas). A elevação do juro foi “desnecessária e sem efeito significativo para conter a inflação”.

Pior – Além de não alterar a trajetória da inflação, aumenta a dívida pública e afeta diretamente o setor produtivo, promovendo arrocho para as empresas, queda dos salários e desemprego”, afirma Synésio Batista, presidente do Corecon- SP.

“A nova elevação dos juros é recessiva, sem contribuir para uma efetiva queda da inflação, já que as taxas são elevadíssimas. Vale lembrar que as últimas altas de dezembro/2002 e janeiro/2003 ainda não tiveram efeito pleno sobre a economia”, diz Heron do Carmo, vice-presidente do Corecon-SP.

As organizações contestam também a elevação do recolhimento do compulsório á vista dos bancos, de 45% para 60%. “Essa medida vai tirar mais de R$ 8 bilhões de circulação, freando toda a economia”.

Marcos Menichetti

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