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Ainda é cedo para Brasil emitir títulos

Guarulhos, 17 de abril de 2003

Apesar dos crescentes rumores de que o Brasil está prestes a fazer uma nova emissão soberana de títulos da dívida, o estrategista de portfólio e câmbio para mercados emergentes do banco JP Morgan, Dráusio Giacomelli, alerta que ainda é muito cedo para o Brasil voltar a captar no mercado internacional. Segundo ele, os “spreads” dos títulos da dívida brasileira estão num nível elevado, embora tenham declinado fortemente nos últimos meses.

Uma nova emissão soberana no nível atual de spreads segundo Giacomelli, apenas agravaria as preocupações do mercado em relação à dinâmica da dívida brasileira. “Como os spreads dos títulos da dívida são o maior termômetro do nível de confiança no País, uma emissão a esse nível atual sinalizaria para o mercado que o nível de spreads já atingiu o mínimo, ou seja, que o governo não espera que haverá mais espaço para a taxa de risco cair, o que seria até um sinal sobre as perspectivas de aprovação das reformas”, disse Giacomelli.

“Além disso, o Banco Central tem um histórico bom de emitir títulos apenas quando os spreads estão na mínima. E a tendência após uma emissão é de que os spreads voltem a subir”, acrescentou. O cronograma original do BC prevê emissões totais neste ano de US$ 3 bilhões para cobrir parcialmente amortizações no total de US$ 3 bilhões e pagamento de juros de US$ 3,8 bilhões até o final do ano.

Para Giacomelli, o “timing” da nova emissão será fundamental para a direção que tomarão o câmbio e os títulos da dívida externa. “Um retorno ao mercado confirmaria que o Brasil embarcou firmemente num círculo virtuoso que até o momento está baseado na reavaliação do mercado do governo Lula e das prioridades da sua equipe econômica”, observou Giacomelli.

Ele considera que há espaço para os spreads da dívida caírem mais ainda. O estrategista do JP Morgan ressalta que uma emissão soberana bem-sucedida irá abrir caminho para que as empresas e instituições privadas brasileiras possam fazer emissões com prazos mais longos.

“Até o momento, o setor privado brasileiro fez captação de curto prazo neste ano”, disse. “Ampliar a maturidade da dívida externa é crucial para reduzir a vulnerabilidade externa e reduzir a volatilidade do câmbio entre outros fatores”, acrescentou. Apesar de o preço do C-Bond estar próximo hoje do seu nível mais elevado, os spreads ainda estão bem mais acima até mesmo do nível observado quando emissões anteriores foram feitas.

Já o Deutsche Bank, entre outros bancos, mencionou o tema em nota para investidores. Segundo o banco alemão, parece ser “muito razoável esperar que o Brasil realize uma emissão se os spreads da dívida caírem outros 50-150 pontos base”.

Predomina a percepção de que, diante dos acontecimentos no Iraque, há espaço para valorização dos papéis da dívida de países emergentes, como do Brasil. Num cenário “neutro ou positivo”, os investidores deverão aumentar a exposição aos ativos de risco.