Adiar crédito é opção para empresa
O empresário e o consumidor que precisam fazer um empréstimo devem fazer um esforço e esperar mais um pouco. Os juros deverão cair nos próximos meses, uma queda mais acentuada do que a da inflação até o final do ano.
A taxa de juros utilizada entre os bancos (mercado interbancário) mostra recuo constante: passou de 29,17% em janeiro para 23,20% em maio. E vários especialistas prevêem que a taxa recuará para 20% em dezembro. O recuo da inflação também deve acontecer, mas em níveis mais modestos.
“Os juros básicos e as expectativas da política monetária futura impõem pisos para os juros futuros e influem nas expectativas de inflação”, aponta a economista sênior Zeina Latif, do BBV Banco, em um relatório sobre os juros reais no Brasil. Esses juros futuros balizam o custo dos empréstimos, principalmente na área de crédito pessoal. A tendência de queda dessas taxas tem se acentuado nos últimos dias.
Queda rápida
O mercado aposta que a taxa vai cair, e rapidamente. No último relatório do Banco Central, as projeções para o juro básico em dezembro caíram quatro semanas seguidas, sendo 21% a estimativa atual para dezembro. “Nós trabalhamos com 20% no final do ano, mas estamos entre os conservadores. Se você ouvir outros bancos, tem gente falando em 19%, 18%, nos mais ousados”, relata Robério Costa, economista sênior do Citibank.
Outro indicativo pode ser visto nos já citados contratos futuros de juros. Como qualquer mercado, também está sujeito a especulações e eventualmente, estar “descolado” da economia real.
O que ele indica, por enquanto, são os juros de longo prazo muito mais baixos que os de curto prazo. O vencimento de julho projeta juro pouco abaixo de 26% enquanto o de janeiro de 2004 oscila em nível inferior a 24%, recuando semana a semana.
Até 2,5 pontos de corte
O presidente da ABBC (associação de bancos comerciais), André Jafferian Neto, acredita que em agosto há espaço para um corte de até 2,5 pontos.
“Até lá, as reformas (estruturais) podem estar encaminhadas”, pontua, com a ressalva que a inflação precisa estar em patamares adequados.
As expectativas do IPCA para este ano estão em queda há três semanas, ainda pelo relatório do BC, embora ainda acima da meta de inflação. Há obstáculos pelo caminho: entre junho e julho existem os reajustes tarifários e os dissídios coletivos no calendário.
Numa hipótese mais conservadora, a taxa de juros real pode ficar na média histórica. Num cenário de IPCA a 11% ou 12% e uma Selic de 24% em dezembro, o juro real pode oscilar entre 10% e 11%, calcula Jafferian.
Primeiro, as grandes
Com esse nível, os empréstimos ficam “menos caros” do que atualmente. A queda, no entanto, vai beneficiar em primeiro lugar as grandes empresas.
Robério Costa, do Citibank, confirma que grande, com longo tempo de relacionamento com um banco, vai ser mais beneficiada por uma queda no custo básico do dinheiro. “O juro cobrado é mais perto do praticado no mercado”, explica.
A tendência é que o custo final se afaste da taxa básica quanto maior o risco, como no caso dos consumidores. “O grande problema é a falta de garantias no caso da pessoa física”, diz Jafferian, que faz parte da diretoria do banco que atua nesse nicho.
Epaminondas Neto