O anúncio do novo acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional foi a gota d'água para que a agência de classificação de riscos britânica Fitch elevasse a nota do país, como especulava o mercado nos últimos meses. Nesta quinta-feira, 06, a Fitch anunciou a alteração do rating de “B” para “B+”, o que, na prática, pode se traduzir em menores custos de financiamento externo do Brasil.
– Um dos fatores que levou à decisão foi o acerto com o FMI. Ele é importante porque mostra que o governo vai manter a atual política macroeconômica, que o Fundo apóia, e que a instituição está disposta a financiar o país no caso de choques – reconheceu Roger Scher, diretor-gerente da agência e chefe do setor de classificação de países latino-americanos.
O acordo com o FMI, porém, não foi a única razão para a mudança, destacou Scher. Segundo ele, também ajudou o fato de a economia brasileira estar apresentando “um desempenho muito bom”.
– As exportações estão em alta e, com elas, o resultado da balança comercial, os juros estão em queda e há indicações de reaquecimento da produção industrial. Além disso, as políticas colocadas em prática estão tendo bons resultados. A política monetária teve sucesso em derrubar a inflação e a política fiscal está funcionando, com o Brasil conseguindo cumprir a meta de superávit fiscal, o que ajuda a derrubar a relação dívida/PIB – acrescentou.
Apesar da melhoria da classificação, a nota do Brasil na Fitch ainda está distante – três degraus – do chamado grau de investimento, já alcançado, na América Latina, por Chile e México. Objetivo de médio prazo do governo, conforme já declarado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o grau de investimento abre as portas para a entrada de mais recursos no país. Isso porque legislação e estatutos de fundos de pensão e outros grandes investidores institucionais de várias nações proíbem a aplicação de mais do que pequenas fatias do dinheiro disponível em países considerados de alto risco.
Pela definição da Fitch, o rating nível “B” do Brasil é considerado “altamente especulativo, indicando que significativo risco de crédito está presente”, pois há muita dependência de financiamento externo e pequeno crescimento econômico. Mas Scher afirmou que o Brasil ainda tem longo caminho pela frente para chegar ao grau de investimento. Em primeiro lugar, contou, é preciso haver “um crescimento forte e sustentado do PIB e das exportações”.
– Não é para ficar soluçando, crescendo 5,5% num ano e depois parando.
Depois, será necessário entrar no que chamou de “segunda fase de reformas econômicas”. A primeira compreende os atuais projetos para a reforma da Previdência, tributária e Lei de Falências, que o Executivo espera “ver passar todas”. Na nota distribuída pela agência, essas medidas foram classificadas como “principais vitórias políticas” do governo Lula, mas Scher ponderou que a reforma previdenciária terá de ser “revista” a médio prazo e a tributária também, por “não ser adequada”.
Outras reformas que o executivo espera ver iniciadas para que o país consiga chegar ao grau de investimento são as das leis que regem o Orçamento da União, em que criticou o direcionamento de receitas, a que confere independência ao BC e a retomada do processo de privatizações, “inclusive dos grandes bancos estatais, como o Banco do Brasil”.
– Tudo isso, claro, junto à manutenção do crescimento sustentado – completou.
A decisão da Fitch ajudou a animar o mercado, que também se empolgou com o acordo com o FMI e a queda da inflação medida pelo IPCA em outubro. Com isso, a Bovespa avançou 1,67%. O dólar, porém, caminhou na contramão e fechou em alta de 0,49%, a R$ 2,877.
Cesar Baima