Embora não exista problema de escassez global de água no mundo, alguns problemas locais já estão acontecendo. Na Rússia o mar Aral era alimentado pelos rios Amu Darya e Syr Darya.
A retirada de água para irrigação das plantações de algodão, fizeram com que os dois rios, não chegassem mais ao mar Aral. Morreram os peixes e todo o ecossistema existente e o mar do Aral está praticamente desaparecendo.
As vazões mínimas nos rios devem ser preservadas para proteger o ambiente natural do ecossistema.
Em 1997 durante sete meses seguido o Rio Amarelo localizado na China não chegou ao mar.
Os rios Indo entre a Índia e o Paquistão e o rio Colorado nos Estados Unidos também alguns meses não chegaram ao mar.
O rio Nilo cuja descarga média em 1900 era de 85 km3/ano, hoje caiu para a média 52 km3/ano atingindo o mínimo de 42 km3/ano.
Na Arábia Saudita está sendo consumida toda a água subterrânea fóssil (aquela que não tem reposição).
Na Índia e na China o uso indiscriminado da água subterrânea para agricultura, está rebaixando os mananciais subterrâneos, assustando os países por não praticarem uma agricultura auto-sustentável.
A água é um recurso finito e praticamente constante durante os últimos 500 milhões de anos.
Do volume total 1.386 milhões de km3 de água na Terra, 97,5% é de água salgada e os 2,5% restantes são de água doce (Shiklomanov, 1998).
Quanto a água doce, 68,9% está congelada nas calotas polares do Ártico, Antártida e nas regiões montanhosas. A água subterrânea compreende 29,9% do volume total de água doce do planeta. Somente 0,266% da água doce representa toda a água dos lagos, rios e reservatórios (significa 0,007% do total de água doce e salgada existente no planeta). O restante da água doce está na biomassa e na atmosfera sob a forma de vapor.
O Brasil possui 12% da água doce do mundo, mas a mesma não está bem distribuída dentro do nosso país.
No Brasil, 68,5% dos recursos hídricos estão na região Norte, enquanto que no Nordeste temos 3,3% , Sudeste 6,0%, Sul 6,5% e Centro-Oeste 15,7%.
O interessante é que apesar de a região Norte possuir 68,5% da nossa água doce, possui somente 6,83% da população, enquanto que o Nordeste tem 28,94%, a região Sudeste 42,73%, o Sul 15,07% e o Centro-Oeste 6,43%. Portanto, o Brasil tem bastante água, mas a mesma está mal distribuída, pois, onde existe muita água, existe pouca população e onde existe muita população existe pouca água.
Existe uma distribuição mundial em todos os países do potencial de volume de água doce anual disponível relativo ao número de habitantes fornecido em m3/hab/ano.
A disponibilidade da água por país compreende todos os recursos de água doce tanto superficiais como de água subterrânea e são chamados também de disponibilidade sociais de água.
Convencionou-se que os países “muito pobres” ou com “escassez de água” seriam aqueles que teriam índices menores que 500 m3/hab/ano. Estão classificados a Líbia, Arábia Saudita, Israel, Jordânia, Singapura entre outros.
Os países “pobres em águas” são aqueles que possuem índice de 500 m3/hab/ano até 1000 m3/hab/ano, tais como o Egito, Quênia, Cabo Verde e o baixo Colorado nos Estados Unidos.
As Nações Unidas definiu que os países com índices menores de 1200m3/hab/ano estão com “stress de água”.
Os países com “abastecimento regular” possuem índice de 1000 m3/hab/ano a 2000 m3/hab/ano e entre eles temos o Paquistão, Etiópia, Ucrânia Bélgica, Polônia.
Os países seriam considerados “suficientes” quando o índice é de 2000 m3/hab/ano a 10000 m3/hab/ano e são a Alemanha, França, México, Reino Unido, Japão, Itália, Índia, Holanda, Espanha, Cuba, Iraque, Estados Unidos e outros.
Os países “rico em água” são aqueles que têm índice de 10.000 m3/hab/ano a 100.000 m3/hab/ano e são entre outros, o Brasil, Austrália, Colômbia, Venezuela, Suécia, Rússia, Albânia, Canadá, Argentina, Angola.
Os países “muito ricos em água” são a Guiana Francesa, a Islândia, o Gabão, o Suriname e a Sibéria (Rússia).
O Brasil é considerado um país “rico em água” possuindo uma disponibilidade hídrica de 35.732 m3/hab/ano. São Paulo possui 2.209 m3/hab/ano menor que o Ceará que tem 2.279 m3/hab/ano, que possui problemas devido a relação precipitação/evaporação estarem entre 0,20 e 0,50, classificando aquele estado como semi-árido, fato este que se encerra em menor aproveitamento de água.
Isto também acontece na Austrália que apesar de ser um país rico em água, possui na maior parte um clima árido tropical. A disponibilidade hídrica social do estado do Amazonas é 773.000 m3/hab/ano e a maior do Brasil é Roraima com 1.506.488 m3/hab/ano.
Atualmente a disponibilidade social dos recursos hídricos no mundo está entre 6000 m3/hab/ano a 7000 m3/hab/ano, isto é, é 6 a 7 vezes maior que o estresse de água definido pelas Nações Unidas que é de 1000 m3/hab/ano, mas problemas regionais existem (Dr. Aldo Rebouças, 1999).
O estado de Pernambuco com 1.270 m3/hab/ano (menor disponibilidade hídrica no Brasil), enquanto que Israel possui 470 m3/hab/ano.
Existe falta de água em Pernambuco e não existe em Israel, o que nos faz observar o mal gerenciamento de água naquela unidade de nossa nação.
A água tem que ser encarado no sentido holístico (global), considerando o uso na agricultura, na indústria, nas municipalidades e na evaporação de água das grandes barragens e reservatórios. Muitas vezes nos esquecemos que o maior uso da água é na agricultura e na irrigação.
No mundo a retirada de água na agricultura em 1900 era de 513 km3/ano e em 2000 é de 2.605 km3/ano e para o ano 2.025 será de 3.189 km3/ano, aumentando em mais de 6 vezes em 100 anos.
A água usada para irrigação aumentou de 1900 com 47,3 km3/ano para 264 km3/ano no ano 2000 e 329 km3/ano no ano 2.025.
O uso municipal da água no ano 1900 era de 21,5 km3/ano e no ano 2000 é de 384 km3/ano e no ano 2.025 será de 607 km3/ano.
O uso industrial em 1900 era de 43,7 km3/ano, no ano 2000 é de 776 km3/ano e no ano 2025 será de 1.170 km3/ano.
A perda de água por evaporação em reservatórios que era de 0,30 km3/ano em 1900, e 208 km3/ano no ano 2000 será de 269 km3/ano no ano 2025.
A retirada total de água no ano de 1900 foi de 331 km3/ano e no ano 2000 é de 3.973 km3/ano e em 2.025 será de 5.235 km3/ano.
Com o crescimento da população mundial que hoje (ano 2006) é de 6 bilhões de habitantes, será no ano 2025 de aproximadamente 8 bilhões de habitantes, quando então teremos grandes problemas de água em determinadas regiões, principalmente na África.
Os índices de stress de água regionalmente, atingem hoje a 35% da população do planeta (Shiklomanov, março de 2000) e para o ano 2025 dois terços da população mundial (WHYCOS,2000).
Como exemplo, o Peru que em 1990 possuía 1.790 m3/hab/ano, terá no ano 2025 o índice de 980 m3/hab/ano. A Tanzânia que possuía em 1990 o índice 2.780 m3/hab/ano, terá no ano 2025 o índice de 900 m3/hab/ano.
As ações antropogênicas irão piorar o problema, aumentando o aquecimento global da atmosfera e poluindo ainda mais os mananciais superficiais e subterrâneos.
As atitudes a serem tomadas a partir de agora, segundo Shiklomanov, são as seguintes:
1) Proteção dos recursos hídricos através de um decréscimo drástico no consumo da água, especialmente na irrigação e indústria.
2) Cessação ou redução das descargas de águas residuárias nas bacias hidrográficas.
Nos países desenvolvidos a tendência das indústrias é o da reciclagem total da água, não havendo lançamento dos efluentes nas redes coletoras de esgotos sanitários ou em córregos ou rios.
3) Melhor utilização da água através de planejamento a longo prazo, das águas de escoamento superficial dependendo da época sazonal.
Na época de chuvas as águas superficiais poderiam ser armazenadas no subsolo ou em túneis subterrâneos para serem usadas na época das secas.
4) Uso da água salgada ou salobra através da dessalinização térmica ou osmose reversa.
Cada vez mais são conseguidos menores custos da água de produção dessalinizada nestes 50 anos. Chegou-se a preços de US$0,50/m3 a US$0,80/m3 para dessalinização da água do mar e de US$0,20/m3 a US$0,35 /m3 para a água salobra.
O uso da dessalinização efetuado junto as Usinas Termelétricas próximas dos litorais barateará cada vez mais o custo da produção. Haverá um ponto em que os preços não mais cairão, como aconteceu com a energia elétrica de origem nuclear.
Talvez o custo super-baixo da dessalinização nunca aconteçerá.
5) Intervenção ativa no processo de precipitação das águas de chuvas.
6) Uso da água das geleiras, das águas seculares dos grandes lagos e dos aqüíferos subterrâneos.
O Brasil tem um dos maiores reservas subterrâneas de água (aqüífero) do mundo denominado Aqüífero Botucatu (chamado de Aqüífero Guarani devido aos índios que habitaram a região) que além do nosso país, atinge o Paraguai, Argentina e Uruguai. Só a parte do Brasil possui 50.400 km3 de água.
Há pensamento generalizado de se transportar (rebocar) geleiras (água doce) para as grandes cidades litorâneas, tais como Nova Iorque e outras.
7) Redistribuição dos recursos hídricos através do território.
Como exemplo, temos o projeto de transferência de parte da água do Rio São Francisco para alguns estados do Nordeste Brasileiro e o aqueduto do rio Colorado localizado na Califórnia (EUA) com 387 km de comprimento que conduz 51 m3/s. As grandes transferências acontecerão e com elas os problemas ecológicos.
A Turquia pretende vender água doce, através de adutoras de grande diâmetro (Adutora da Paz) que passaria por 11 países árabes e custaria 20 bilhões de dólares. Devido a problemas políticos previsíveis os planos foram suspensos.
A Turquia enquanto isto, vende água doce para a Ilha de Chipre em container de 10.000 toneladas rebocado por navio. Em breve os containers passarão para 20.000 toneladas de água doce.
A utilização dos recursos hídricos devem ser sustentáveis, isto é, deve ser administrado globalmente, com o objetivo de atender a sociedade agora e no futuro, mantendo a integridade ecológica, ambiental e hidrológica (UNESCO,1999).
Portanto, o desenvolvimento sustentável da água necessita de um compromisso no presente, para atender as nossas necessidades sem comprometer as futuras gerações.
Engenheiro civil Plínio Tomaz
Diretor de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da ACE