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Ação conjunta pode reduzir problema do cheque sem fundos

Guarulhos, 04 de junho de 2002

No mês de maio, as instituições financeiras devolveram ao mercado 3,2 milhões de cheques sem fundos. O volume é 4,2% menor que o registrado no mesmo mês de 2001. Representa, também, a primeira queda significativa desde janeiro último. Mas no acumulado de 2002 o número de cheques recusados pelos bancos por insuficiência de saldo continua subindo. Já chegou a 16,1 milhões neste ano. Em 2001, foi de 14,9 milhões, segundo a Associação Comercial de São Paulo. Ou 8% a menos. O grande perdedor ainda é o comércio, segmento que mais trabalha com cheques. Mas não é o único. “O bom consumidor está pagando a conta porque os juros no crédito pessoal tendem a subir na proporção direta do aumento da inadimplência”, diz Alencar Burti, presidente da Associação Comercial. Na opinião dele, é preciso que o comércio, a indústria, as instituições financeiras e o Banco Central, BC, se unam para encontrar saídas que permitam reduzir o volume desses documentos.

Mais rigor – Com esse propósito, o diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro do BC, Sérgio Darcy, reuniu-se ontem em São Paulo com empresários na Associação Comercial, em plenária presidida por Burti. Maior cautela dos bancos na abertura de contas-correntes e na distribuição de talões de cheques foi apenas uma, mas talvez a principal, medida apontada por Darcy para começar a inibir a emissão desses cheques. Segundo o diretor do BC, os critérios fáceis adotados pelos bancos na abertura de uma conta abrem espaço para os maus pagadores. A proposta da adoção de maior rigor nessa operação será levada pelo BC à Federação Brasileira das Associações de Bancos. A idéia faz parte do projeto “Conheça seu Cliente”, uma experiência copiada pelo BC do mercado internacional.

Moralização – “Conhecer seu cliente é uma questão de responsabilidade”, afirmou Darcy. Uma saída, seria a implantação do cadastro positivo que permitiria diferenciar o bom do mau cliente. “O cadastro positivo é um avanço na economia mundial, porque permite ao cliente do banco carregar com ele todas as informações sobre sua conduta no mercado”, afirmou Burti. Para o diretor de Normas do BC, o cadastro positivo daria, ainda, mais segurança aos próprios bancos e ao mercado. Ele reconheceu a necessidade de haver um aperfeiçoamento contínuo do sistema. “Itens que considerávamos importantes já não estão tão perfeitos como pensávamos”, admitiu.

Cheques sustados – Darcy se refere às reclamações de empresários em relaçao ao grande número de sustações e falsificações de cheques no mercado. Nos últimos cinco anos, segundo a Associação Comercial, 91 milhões de cheques foram sustados, tornando o conceito de sustação muito maleável. O BC deverá propor um aperfeiçoamento do mecanismo para acabar com o sustador de cheques contumaz. A falsificação de documentos também está na mira do BC. Outro item apontado por Sérgio Darcy que deverá merecer a atenção diz respeito à informação, no cheque, da data de abertura da conta. Em geral, o comércio evita receber cheques de contas abertas há menos de um ano, sob a alegação de que 50% deles retornam para o varejo. E sem fundos.

Roseli Lopes