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A economia em risco

Guarulhos, 29 de outubro de 2006

Reformas estruturais, crescimento econômico, criação de empregos com carteira assinada, reforma agrária, consolidação da “marca Brasil” no exterior, investimento em infra-estrutura e, ao mesmo tempo, redução dos gastos do Estado e da carga tributária. Essa pequena lista elenca uma parte dos desafios do recém-eleito Luiz Inácio Lula da Silva para seu segundo mandato como presidente da República, a partir de 01 de janeiro de 2007.

Esses fatores são vistos pelos especialistas como a base para o Brasil superar suas barreiras ao tão sonhado desenvolvimento sustentável nos próximos quatro anos. Há, ainda, o problema da entrada desenfreada de produtos chineses no nosso mercado consumidor e a necessidade de se alcançar um patamar de câmbio que mantenha os exportadores com “fôlego” para enfrentar os principais concorrentes, mas que também permita crescimento das importações essenciais ao País.

No item crescimento econômico, o ponto principal será conciliar uma evolução do Produto Interno Bruto (PIB) acima dos 4%, sem uma elevação das taxas de juros ou o não cumprimento das metas de inflação do Banco Central. Para colocar essa “equação” em prática, economistas e industriais brasileiros colocam a redução dos gastos e a manutenção dos cortes na taxa básica Selic como os alicerces de uma campanha de desenvolvimento sustentável da economia.

Para o economista e professor Raul Velloso, o presidente terá que optar por um modelo de desenvolvimento ou pela manutenção do sistema sustentado pela arrecadação ainda em 2007. Para ele, é impossível planejar um crescimento do PIB acima dos 4% com uma carga que corresponde a 37% do seu valor total. “São R$ 724 bilhões arrecadados por meio dos tributos. Não há como crescer e todos os demais pontos para o desenvolvimento do País são prejudicados”, avalia.

Endividamento – Já o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, espera que o governo coloque a redução do endividamento público como uma das suas principais metas. Skaf não acredita em crescimento do PIB acima de 3% enquanto a produção for “taxada por impostos pesados e que vêm sustentando um estado inchado e ineficiente”.

Dentro do pacote de reformas, o novo governo precisará de uma agenda efetiva de políticas macroeconômicas, que dependerá de um comprometimento completo das duas casas legislativas, a Câmara e o Senado. Os parlamentares terão de colocar em votação novos marcos regulatórios para o setor enérgico, saneamento e logística. Também serão necessárias regras claras para as Parcerias Público-Privadas (PPPs), permitindo a entrada do capital externo em projetos de infra-estrutura, como os de logística, que facilitarão o escoamento da produção.

Emprego – Já para se falar em geração de empregos formais e crescimento da economia, segundo os analistas, é essencial que sejam feitas reformas efetivas no setor previdenciário, tributário e na legislação trabalhista. O professor Albert Fishlow, da Universidade de Columbia, especialista em economia brasileira, espera uma mudança nas regras da Previdência ainda no primeiro ano de governo.

“Com o déficit de R$ 8,5 bilhões no último mês de setembro, o governo precisará mudar pontos básicos, como a idade mínima para aposentadoria e oferecer o direito de opção entre o sistema público e o privado. Se isso não for feito, a Previdência Social trará grandes problemas para os demais itens que compõem a economia do País”, diz o professor.

O economista Roberto Luis Troster, ex-chefe do Departamento Econômico da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), acredita que a criação de novas vagas formais virá somente com o crescimento do PIB acima dos 5%, o que, para ele, ocorrerá após a introdução de todas as reformas estruturais. Troster destaca a importância de uma reforma trabalhista que permita a desoneração da folha de pagamentos, reduzindo o número de informais na economia brasileira.

Os analistas são unânimes em dizer que o Brasil precisará sair de um modelo que vem “sufocando” quem produz para um que permita o crescimento e a manutenção das taxas de juros e inflação controladas.

Estrutura – Apesar de todos os alertas dos especialistas, para presidente do Banco Centra, Henrique Meireles, o Brasil já possui a estrutura necessária para crescer acima dos 5% a partir de 2007. Segundo ele, as reformas de base, previdência e tributária são o próximo passo para a consolidação do País como uma economia “segura” e atrativa para os investidores estrangeiros.