Consumidor ainda tem esperança
Pesquisa divulgada pela ACSP mostra que o consumidor ainda não perdeu a esperança
O consumidor está esperançoso com o futuro da economia brasileira e tem a intenção de gastar mais nos próximos seis meses. No entanto, não há expectativa de melhora no que diz respeito às finanças pessoais. Quem tem emprego já se considera satisfeito e não acredita que terá melhorias no próprio rendimento. Essa é a conclusão da pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos Public Affairs e divulgada ontem pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e que passa a ser anunciada todos os meses. Juntamente com os dados de confiança da população, foram reveladas as intenções de compra para o Dia das Mães.
De acordo com o diretor da Ipsos, Clifford Young, o Brasil é carente de indicadores para planejamento econômico e é essa falha que a pesquisa encomendada pela ACSP procura suprir. Dados semelhantes são coletados nos Estados Unidos e Canadá.
Em fevereiro, o Índice Nacional de Confiança (INC), como será chamado, foi de 127 pontos, sendo 100 o número base. A confiança do consumidor teve uma ligeira queda em relação a janeiro, quando registrou 130 pontos, mas manteve-se estável em relação aos meses anteriores. Embora tenha sido a primeira divulgação oficial, os dados vêm sendo coletados desde abril do ano passado para que uma série mínima fosse anunciada.
A queda de fevereiro foi causada, principalmente, pelos entrevistados das regiões Norte e Centro-Oeste do País. “Os problemas com a safra agrícola e com a febre aftosa afetaram os moradores dessas regiões, que tiveram seus rendimentos diminuídos”, explicou o presidente da ACSP, Guilherme Afif Domingos. Em sua opinião, uma redução dos preços dos alimentos é boa para o consumidor de imediato, mas causa escassez e desemprego no médio e longo prazos.
Otimismo – Em contrapartida, os consumidores das demais regiões mostraram-se divididos com o futuro e com a situação atual: 39% consideram a região onde moram forte ou muito forte economicamente e 37% acreditam que seja fraca ou muito fraca. Os demais não souberam ou não quiseram responder.
Um dos otimistas é o assistente administrativo Thiago Bernardo Pinho, de 20 anos. Ele trabalha em um escritório de contabilidade e diz que a empresa cresceu muito nos últimos anos e deve continuar em expansão. De 10 funcionários há um ano, o escritório mantém hoje 40 pessoas, todas com carteira de trabalho assinada.
“Todo mundo sabe que em ano de eleição aparece muito dinheiro, há muito investimento e isso reflete em todo o País e principalmente aqui em São Paulo. Só não sei se vai se manter no pós-eleição”, disse.
Na opinião de Marcel Solimeo, diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da ACSP, o assistente administrativo tem razão. “Os gastos públicos só crescem. Ademais, em abril haverá o aumento do salário mínimo e até lá uma nova redução da Selic (taxa básica de juros), sem esquecer, claro, que teremos Copa do Mundo, o que aumenta o clima de festa do País”, disse.
Finanças pessoais – Entretanto, os indicadores de situação financeira pessoal mostram que o consumidor não vê melhoras em sua própria casa. Dos entrevistados, 45% consideram a situação da própria família boa, o mesmo índice de abril do ano passado. Mas a estabilidade também é vista entre os que consideram a situação ruim, de 32% em abril de 2005 para 33% no mês passado.
O engraxate Jesse Silvério Batista, 26 anos, é um desses. Embora acredite na melhora econômica do País, afirmou que a situação de sua família mantém-se nos mesmos patamares de alguns anos atrás. “Meus clientes reclamam muito do preço do trabalho e fica cada vez mais difícil ter dinheiro”, reclamou. Para engraxar um par de sapatos em frente a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), ele cobra R$ 4.
Metodologia – Para fazer a pesquisa, a Ipsos entrevistou 1 mil pessoas a cada mês, em 70 cidades de todo o Brasil.