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Alta da Selic eleva custo mensal do dinheiro para 44,23%

Guarulhos, 17 de fevereiro de 2005

O custo mensal para se captar dinheiro no mercado está maior: o juro cobrado na operação é de 44,23%. O aumento é conseqüência da nova Selic anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que subiu em mais 0,5 ponto a taxa, elevando-a para 18,75% ao ano.

Até o anúncio da decisão do Copom, os juros básicos da economia estavam em 18,25% ao ano, e, assim, pagava-se taxas mensais no mercado de 40,67%. Basta olhar um pouco mais para trás para perceber a força com que as altas promovidas pelo governo na Selic agem sobre o custo mensal do dinheiro.

Em janeiro de 2004, portanto há pouco mais de um ano apenas, para se captar recursos no mercado arcava-se com juros de 28,08% ao mês. Ao elevar a Selic em 0,25 ponto no mês seguinte, o Banco Central fez com que esse custo saltasse para 29,89% ao mês. Mais uma dose de aumento em março, agora de 0,5 ponto e pronto: o dinheiro no mercado passou a custar 33,49% ao mês. E por aí vem vindo, até bater na casa dos 40%.

Mais escasso – Dinheiro mais caro é sinônimo de investimentos mais minguados por parte das empresas. Em especial na produção, que ajuda na geração de empregos. Mais empregos significam mais renda, que, por sua vez, tem uma relação direta com o aumento do consumo, a recuperação das vendas no comércio e o movimento da economia. Frear esse ciclo de desenvolvimento com um ciclo de altas dos juros, portanto, é dirigir na contramão.

O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos, diz que é “lamentável a decisão do Copom, que, mais uma vez, se pauta pelas expectativas do mercado financeiro, esquecendo-se de quem produz e gera empregos no País”.

Também da Associação Comercial, o economista e diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal da ACSP, Marcel Solimeo, diz que o Banco Central vem confundindo necessidade de juros altos com necessidade de aumentar os juros.

“Não é esse o caminho. O aumento veio dentro do esperado e com ele se confirma que o mercado pauta o Banco Central e sua conduta com relação à política monetária. A partir de agora, vamos ter de combinar com o mercado financeiro como serão os juros. A decisão do Copom nos faz lembrar de um episódio da história econômica brasileira, em que se sugeriu que se fechassem as casas de câmbio para que o dólar parasse de subir. Acho que teremos de fechar o mercado financeiro para que os juros parem de subir”, diz Solimeo.

Presidente reclama – O presidente em exercício, José Alencar, voltou a reclamar dos juros que outrora já classificou de escorchantes e equivalentes a um assalto. Alencar fez novas críticas aos juros em Anapu, no Pará. Local onde foi assassinada no último sábado a freira Dorothy Stang.

Ao receber um grupo de políticos que o acompanhou até a cidade de Anapu, José Alencar afirmara que o País gasta um quarto de todas as receitas da União, estaduais e municipais com juros.

O presidente em exercício chegou a dizer que o investimento em áreas sociais fica comprometido, porque o governo paga uma quantia muito elevada de juros todo ano. Aproveitou para lembrar que o Brasil continua à frente no ranking dos países com a maior taxa real, ao ter juros 12 vezes maior do que a média de 40 países.

O economista-chefe do Banco Schahin, Cristiano Oliveira, diz que esse ritmo de alta dos juros adotado pelo governo deverá continuar.

Segundo ele, a recente desaceleração do IPA, em parte explicada pela apreciação do real, sinaliza menor pressão sobre os IPCs nos próximos meses. O que justificaria, segundo ele, a manutenção do ritmo de alta. Ele avalia que o principal risco para a inflação é que a demanda tem crescido de modo mais acelerado que a oferta.

Roseli Lopes