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Consumidor quita dívidas, mas não volta a comprar

Guarulhos, 05 de janeiro de 2005

O consumidor está empenhado em quitar suas dívidas, como revela o cancelamento recorde de registros no Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), no melhor resultado desde 1967. Mas, mesmo com as dívidas pagas, o público não está indo para o consumo, segundo aponta o balanço de vendas de dezembro, indicando uma perda de fôlego nos negócios do varejo.

Os registros recebidos (nomes que entraram para o SCPC) cresceram apenas 1,3% em dezembro, enquanto os cancelados (que saíram do cadastro) tiveram aumento expressivo de 28,4% no período. Isso mostra a preocupação em não começar o ano endividado.

Por outro lado, as fracas vendas a prazo, detectadas pelas consultas ao SCPC, com alta de apenas 3% em dezembro sobre igual período de 2003 (e bem abaixo de novembro, com 5,5%), revelam que o consumidor está temeroso com os juros. As vendas a vista, medidas pelo UseCheque, foram um pouco melhores – subiram de 4,9% em novembro para 9,4% em dezembro – mas nada de excepcional, mostrando que houve cautela nos gastos de Natal.

Avaliação – Para Guilherme Afif Domingos, presidente da ACSP, os dados do SCPC de dezembro confirmam que o crediário puxou as vendas de duráveis, como eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis, até outubro passado. Mas, em dezembro, houve uma inversão e as vendas a vista, tomaram a dianteira.

“Na verdade, tivemos mais um Natal de presentinhos, que representam maior volume, mas menor valor agregado”, diz Afif. Entre os eletroeletrônicos, apenas os celulares tiveram venda aquecida.

Segundo o presidente da ACSP, o consumidor, com a renda comprimida, está em compasso de espera, aguardando para ver o que vai acontecer com os juros. Assim, preferiu usar o 13º salário para quitar as dívidas em atraso. “Contribuíram para isso, ainda, a recuperação no nível de emprego e algumas facilidades oferecidas pelas financeiras.”

Sem explosão – Guilherme Afif também alerta que, se o governo voltar a aumentar a taxa básica de juros (Selic) – conforme é esperado para este mês de janeiro -, poderá comprometer o desempenho do primeiro trimestre de 2005, já que não há nenhuma “explosão” de consumo a vista. Ele detecta, aliás, que há sinais de que o varejo de bens duráveis esteja estocado. “Até o dia 15 veremos se novos pedidos vão chegar às fábricas”, comenta.

Existe ainda a perspectiva de que a economia mundial ande mais devagar em 2005, sobretudo a americana e a chinesa, que vinham estimulando nossas exportações. Se o governo aumentar os juros para desaquecer a inflação, ressalta o presidente da ACSP, correrá o risco de “esquentar” o debate político, antecipando a sucessão para 2005. “Isso poderá enfraquecer a rigidez da política econômica por mais gastos do governo”.

Balanço 2004 – No balanço de 2004 as consultas ao SCPC fecharam com 6% de aumento e o UseCheque com alta de 2,2%. Os registros recebidos encerraram o ano com elevação de 7% e os cancelados com 13,4%. Uma boa notícia é que as falências requeridas declinaram 27,9% no ano, e as decretadas, 22,7%.

Essa melhora na saúde financeira empresarial se explica: com medo dos juros altos, as empresas estão recorrendo menos aos bancos. Mas levanta também uma preocupação: a elevada carga tributária teve um efeito perverso sobre os negócios. “As empresas médias acabaram inadimplentes e as micro e pequenas foram empurradas para a informalidade”, diz Afif. Ele lembra que o governo não corrige a tabela de enquadramento do Simples desde sua criação, em 1995, jogando essas empresas “na grande tormenta tributária”.

Sergio Leopoldo Rodrigues