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Juro sobe e comércio fala em recessão

Guarulhos, 16 de dezembro de 2004

O Comitê de Política Monetária (Copom) fez, nesta quarta-feira, 15, o que o mercado esperava: subiu a taxa de juros da economia em 0,5 ponto porcentual, elevando com isso a Selic para 17,75% ao mês. A maior de 2004. E teve como resposta exatamente o que se esperava também: uma chuva de críticas de todos os lados. Inclusive, agora, da oposição, que anda às turras com o governo Lula. Entretanto, pior do que a condenação que a decisão do Banco Central recebeu do mercado, é o receio, manifestado por parte do comércio, de que novas altas seguidas gerem recessão.

“É um círculo vicioso: o mercado se baseia no conservadorismo do Banco Central para fazer suas apostas e o Banco Central, por sua vez, segue o que o mercado aposta”, diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Segundo Solimeo, o perigo de o BC continuar aumentando os juros com a justificativa de cumprir a meta de inflação é que novas altas, a partir de agora, poderão gerar recessão econômica, diz ele.

Na avaliação do também economista Ricardo Denadai, da LCA Consultores, se 2004 foi um ano favorável para o crescimento econômico, foi, ao mesmo tempo, relativamente ruim para a inflação. A pedra no sapato do Copom. O aumento no preço do barril de petróleo no mercado externo foi um dos motivos para isso. A alta no valor das commodities metálicas, outro.

Pressão no varejo – Somadas essas duas altas à aceleração da economia dos Estados Unidos e ao efeito de expansão econômica acelerada da China e pronto: a pressão sobre os preços domésticos foi inevitável. Como também foi fatal, segundo Denadai, a pressão de custos que culminou em um repasse, ainda que contido, do atacado para o varejo. Ou seja, o consumidor.

“Houve um foco de pressão inflacionária que levou o Banco Central a interromper a trajetória de redução em abril e voltar a aumentar os juros, dando início a um aperto monetário”, diz o economista da LCA. Desde que o governo adotou o sistema de metas inflacionárias, em 1999, os juros têm sido usados para segurar a inflação. Denadai lembra que o mercado não contesta o aumento dos juros, mas sim a meta de inflação imposta pelo governo, considerada muito ambiciosa.

Desagrado – A nova alta dos juros foi criticada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que a considerou “excessiva e desnecessária”. Para a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio), a decisão “retira ainda mais fôlego da economia”.

Já a Confederação Única dos Trabalhadores (CUT) considerou “sem cabimento o Copom repetir, agora, o que fez nos últimos meses”. E acusa o governo de ter agido de acordo com a especulação financeira. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, do Copom espera-se sempre o mesmo resultado: alta dos juros.

Vários parlamentares da oposição, desta vez, engrossaram o coro dos descontentes com o aumento dos juros. Para o líder do PFL, senador José Agripino, a decisão do Copom foi “incompreensível”.

“O governo tinha conhecimento de que o crescimento da indústria já vinha dando sinais de retração. Definitivamente, ele não quer crescer”, diz Agripino.

O BC não escapou nem mesmo do vice-presidente do Senado, Paulo Paim (PT-RS), que viu na decisão do Copom uma medida negativa. “No final, o trabalhador é quem será o prejudicado”, disse Paim.

Roseli Lopes