Natal: consumidor quer comprar, mas não tem dinheiro
O consumidor quer comprar, mas não tem idéia de como vai pagar. Essa é a análise do Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA-USP), após realizar sua pesquisa trimestral sobre as expectativas de consumo de bens duráveis e semi-duráveis em São Paulo.
A intenção de compra de todos os segmentos pesquisados (linha branca; móveis; eletro-eletrônicos; material de construção; automóveis; informática; foto e óptica; cama, mesa e banho; e auto peças) aumentou para o último trimestre do ano, em relação a igual período do ano de 2003.
Porém, desses mesmos nove setores pesquisados, quatro apresentaram queda na intenção de compra para este final do ano na comparação com o trimestre imediatamente anterior: linha branca, móveis, eletro-eletrônicos e foto óptica. Segundo o professor Claudio Felisoni de Angelo, coordenador geral do Provar, isso demonstra que hoje o consumidor está mais cauteloso e medindo o que realmente precisa e quer adquirir.
Preocupações – Mas o que mais preocupa a fundação e a equipe da pesquisa é a redução da intenção de gasto. “As pessoas querem comprar mas, quando fazem as contas para saber quanto podem gastar, desistem do que queriam e partem para as compras de produtos menores”, explica o professor. Para ele, isso significa que o Natal de 2004 pode repetir o que aconteceu em anos anteriores, com a compra de pequenas lembrancinhas ao invés de grandes presentes. Dos nove itens, apenas foto óptica e auto peças apresentaram intenção de gasto maior, em relação ao mesmo período do ano passado.
Os 408 entrevistados pela equipe da FIA ganham, em média, R$ 900. Descontados os gastos fixos com habitação, alimentação, transporte e outros, sobra ao consumidor cerca de R$ 90. O problema é que esse valor não será dedicado totalmente as compras, segundo Felisoni, pois será dividido com contas de celular, internet, TV por assinatura e pagamento de dívidas pendentes. Resultado: não sobrará muito para o consumidor gastar no Natal. “Se o gasto for grande, podemos prever uma inadimplência alta no começo do ano que vem porque o consumidor não poderá arcar com suas dívidas”, comenta.
Destaques – Dos itens pesquisados, os destaques são os materias de construção (13% das intenções são para esse segmento) e produtos de cama, mesa e banho, que ficam com 21,8% das intenções. “Desde 1999, quando começamos a pesquisa, nunca se viu números tão grandes para cama, mesa e banho”, explicou o coordenador da pesquisa, professor Luiz Paulo Fávero.
Ele acredita que as indústrias e lojas que vendem esses produtos passaram a investir mais em comunicação nos últimos meses. “Hoje vemos encartes em jornais com esse tipo de produtos, o que não acontecia antes. Além disso, a teatralização das lojas, com exposição de lençóis em camas, por exemplo, é uma experiência nova que está funcionando.”
Outros itens, como a linha branca, tiveram queda nas intenções de 16,2% se comparado ao trimestre anterior, mas, segundo Fávero, é porque o segmento já atingiu certa maturidade nas vendas ao longo deste ano.
Crediário – Os consumidores ainda apresentaram a forma de pagamento de suas possíveis compras. Quase a totalidade das mercadorias será paga a prazo, caso a venda seja efetivada. As razões, para o Provar, são que muitos dos produtos pesquisados (como automóveis e linha branca) têm valores altos, o que impede a maioria da população de comprar a vista, e a retomada da economia neste ano está fazendo primeiro o consumidor acertar suas dívidas, para depois voltar a comprar.
“A maioria das categorias conseguiu reajuste salarial acima da inflação e novas vagas foram criadas, mas para aumentar o consumo consideravelmente é preciso que a economia se mantenha nesses níveis nos próximos anos”, afirma Felisoni.
Fernanda Pressinott