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Brasileiro prefere aplicar em renda fixa

Guarulhos, 25 de agosto de 2003

ArteDo total de recursos investidos no mercado financeiro – R$ 725,5 bilhões até julho deste ano – R$ 561 bilhões estavam aplicados em fundos de renda fixa, mostrando que, na roda de investidores brasileiros o conservadorismo ainda fala mais alto.

Que o brasileiro investe seu dinheiro no mercado financeiro todo mundo sabe. Mas onde ele aplica seu dinheiro? Bem, o brasileiro continua conservador na hora de escolher sua aplicação financeira. Do estoque de recursos investidos em todo o mercado financeiro – R$ 725,5 bilhões, até o mês de julho último – , R$ 561 bilhões estão aplicados em renda fixa, ou o equivalente a 77% de todo o volume de dinheiro aplicado no mercado pelo brasileiro.

O conservadorismo do brasileiro quanto à escolha das aplicações tem pelo menos uma explicação: o prazo definido para o resgate do dinheiro. Pouco mais de 40% do volume investido no mercado financeiro brasileiro são resgatados pelos aplicadores antes de um ano.

Isso significa dizer que o investidor brasileiro deixa transparecer que não está propenso a correr riscos de perder, uma vez que seu horizonte de resgate é muito pequeno.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2002, a poupança privada bruta – investimento de longo prazo – somou R$ 238 bilhões. O que equivaleria a 18% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Um volume que pode ser considerado baixo, se comparado a outros países. Atualmente, os investimentos em poupança de longo e curto prazos chegam a cerca de 55% do Produto Interno Bruto.

“Boa parte dos recursos dos brasileiros é direcionada ao consumo privado, mas isso nem sempre acontece quando os salários são pagos. Muitas vezes as pessoas deixam o dinheiro no banco por alguns dias ou até durante meses, mas depois acabam resgatando o dinheiro. Isso faz com que o País tenha um índice de poupança interna muito baixo, de apenas 18%, quando a média dos países asiáticos atualmente está em torno de 40%”, diz o economista Marcel Solimeo, diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo.

Muito mais do que uma questão cultural, Solimeo diz que o baixo índice de poupança interna está atrelado à renda em queda dos brasileiros. “Não sobra muito o que poupar”, diz o economista.

O problema de ter um índice baixo de poupança é que o País acaba ficando com um volume de dinheiro baixo em caixa para investimentos. “Para agravar ainda mais nossa situação, a poupança do setor público, que na década de 70 correspondia a 5% do Produto Interno Bruto brasileiro, atualmente é deficitária”, diz Solimeo.

Rentabilidade – Mas não foi apenas o conservadorismo que empurrou os investidores em direção das aplicações de renda fixa no período que se sucedeu após a implantação doPlano Real, em 1994.

De acordo com o professor de Mercado de Capitais da Universidade do Paraná e autor do livro Investimentos: como administrar melhor o seu dinheiro, Mauro Halfeld, a aplicação em Certificados de Depósito Interbancário bateu qualquer outra aplicação em termos de rentabilidade durante o Plano Real, com lucro líquido de 183% no período, ou seja, descontada a inflação.

A explicação para esse fenômeno é simples: durante o Plano Real, a dívida pública praticamente dobrou de tamanho e, para financiá-la, o governo passou a oferecer um retorno atraente e gordo para os que comprassem seus títulos. No início de 1999, por exemplo, a taxa básica de juros (Selic), chegou a bater na casa dos 45% ao ano. Os títulos do governo são, justamente, remunerados pela Selic. Um retorno muito difícil de ser conseguido no mercado financeiro com outro tipo de aplicação.

Isso explica o maior número de produtos de renda fixa do que de renda variável no mercado e o fato de a maioria dos investimentos ser feita por meio dos bancos.

O mercado de capitais também concentra um volume razoável de recursos: R$ 497,5 bilhões em ações, que estão nas mãos de cerca de 100 mil investidores.

Adriana Gavaça