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Vendas do varejo têm forte retração pelo segundo mês

Guarulhos, 14 de março de 2003

As vendas do comércio varejista registraram nova queda em janeiro, de 4,86%, ante igual mês do ano anterior, após amargarem uma redução também significativa em dezembro do ano passado, de 5,07% nessa base de comparação. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Para o técnico Nilo Lopes, as diminuições estão sendo provocadas pela alta da inflação e dos juros, que reduzem o poder de compra da população.

O argumento de Lopes é de que a queda nas vendas do comércio está sendo puxada pelo grupo de supermercados, hipermercados, bebidas e fumo (com baixa de 6,17% em janeiro), que responde por cerca de 30% do faturamento do varejo e vem sofrendo as conseqüências da redução na renda dos trabalhadores. “Os aumentos de preços estão reduzindo o poder de compra, especialmente de produtos básicos”, disse.

As vendas desse grupo já tinham despencado em dezembro de 2002 (8,3%) e vinham registrando queda desde setembro do ano passado.

Faturamento cresce – Por outro lado, a receita nominal (sem descontara inflação) cresceu 13,4% em janeiro o que, segundo destacou Lopes confirma a elevação de preços. No comércio em geral, a receita nominal cresceu 13,75% em janeiro ante igual mês de 2002.

Outro segmento que reduziu vendas em conseqüência de reajustes é o de combustíveis e lubrificantes, com queda de 4,53% em janeiro, aprimeira redução desde junho do ano passado. Lopes explicou que o crescimento das vendas nesse segmento no ano passado – o único mês de queda nas vendas em 2002 foi junho – ocorreu devido à estabilidade de preços na maior parte do ano, mas a partir de setembro os aumentos começaram a desacelerar devido aos reajustes.

Segundo Lopes, no acumulado de novembro a janeiro deste ano, os combustíveis apresentaram reajuste médio de 25%, levando a um recuo na demanda. O aumento dos preços no setor levou a um “desempenho excepcional” na sua receita nominal, que cresceu 30,72% em janeiro ante igual mês do ano passado.

Duráveis – As altas consecutivas nas taxas de juros também comprometeram o desempenho de móveis e eletrodomésticos. As vendas do segmento caíram 10,85% em janeiro ante igual mês do ano anterior, após significativa redução registrada também em dezembro (8,27%). Lopes lembrou que o segmento depende muito do crédito, cada vez mais restrito no País.

A pesquisa do IBGE revelou também que os reajustes no setor têm ocorrido em patamares inferiores ao comércio em geral. Em janeiro, a receita nominal do segmento cresceu 2,15% ante igual mês do ano anterior, enquanto a do comércio em geral aumentou 13,75%.

Os artigos de uso pessoal e doméstico (inclui informática, farmácias e papelarias) também apresentaram pequena queda nas vendas em janeiro (de 0,91 %), segundo Lopes influenciada pelos mesmos fatores.

O único segmento a registrar pequena elevação (0,16%), considerada “irrisória” pelo técnico, foi o grupo de tecidos, vestuário e calçados, por causa das promoções.

As vendas de veículos e motos segmento pesquisado pelo IBGE mas não computado no Cálculo final da pesquisa – registraram queda em janeiro (13,56% ), segundo Lopes também sob impacto dos juros, que são fundamentais para os financiamentos do setor, e pela inflação.

– Para o técnico, “com certeza” o quadro do comércio varejista não sofreu nenhuma modificação em fevereiro e março, ou seja, haverá quedas nas vendas emrelação a igual mês do ano anterior nas próximas duas pesquisas mensais de comércio a serem divulgadas pelo IBGE. “O comércio está refletindo quadro de desemprego, queda na renda, juros altos e inflação em alta e nada disso mudou nos últimos meses”, disse.