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Acordo com o FMI pode atrapalhar corte do juro

Guarulhos, 19 de agosto de 2002

O recente acordo com o Fundo Monetário Internacional, FMI, deve impedir que a taxa básica de juros, a Selic, caia na reunião do Comitê de Política Monetária, Copom, agendada para a terça e quarta-feira desta semana, a exemplo do que aconteceu no mês passado. A partir do próximo mês, porém, a expectativa dos analistas consultados pelo Diário do Comércio é de queda, devido à flexibilização da meta de inflação para este ano.

Atualmente a Selic está em 18% ao ano. “O FMI não colocou nenhuma cláusula impedindo uma redução dos juros agora. Mas o Banco Central deve agir com moderação, para não perder credibilidade, na medida em que acabou de recorrer ao Fundo, atrás de recursos”, diz o economista Luís Afonso Lima, do BBV Banco.

Apoio – Além de o novo empréstimo ter sido liberado há uma semana, o presidente Fernando Henrique Cardoso ainda necessita do apoio dos candidatos à Presidência ao acordo firmado com o Fundo. A reunião com os presidenciáveis está agendada para esta segunda-feira(19). O desfecho do encontro também deverá servir de termômetro para a decisão do Copom. “É preciso que os candidatos apóiem o acordo para que o mercado financeiro tenha uma reação positiva, com a redução do risco-país e a taxa de câmbio”, diz o economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo.

Tendência – Caso o resultado dos encontros com os candidatos seja de apoio ao acordo, é provável que já nesta reunião o Copom decida adotar um viés de baixa para a taxa, no entendimento dos analistas. Enquanto a expectativa para a reunião de agosto é de manutenção, os analistas acreditam que há espaço para reduções da taxa já a partir de setembro.

Otimismo – O BBV Banco, por exemplo, projeta uma taxa Selic de 16,75% ao ano para dezembro. “Caso o mercado se acalme é possível que o Banco Central reduza a taxa até mesmo antes da próxima reunião”, diz Lima. Emílio Alfieri concorda que haverá espaço suficiente para reduções nos próximos meses, devido principalmente à flexibilização da meta de inflação para este ano. O governo trabalhava com uma meta inicial de 3,5%, com dois pontos porcentuais de limite para baixo ou para cima. Com o novo acordo, o limite superior foi ampliado para 9%.

Redução – O economista-chefe da Sul América Investimentos, Luiz Carlos da Costa Rego, também acredita que a flexibilização da meta de inflação irá levar o Banco Central a reduzir a Selic. Para ele, esse corte poderia acontecer mesmo que a meta não fosse modificada, porque a valorização do dólar não está sendo repassada para os preços, em função de a demanda estar reprimida.

Inflação – Ele diz que a inflação acumulada nos últimos doze meses, de em média 7,5%, não está sendo puxada pelos chamados preços livres e sim pelos preços administrados, como contas de consumo. “A inflação, descontado os preços administrados, já estava dentro da meta”, diz. Rego é um dos poucos analistas que acredita que o Banco Central pode surpreender o mercado, decidindo cortar os juros básicos já na reunião desta semana. “No mês passado as condições de turbulência eram as mesmas e ainda assim a Selic foi reduzida em 0,50 ponto porcentual”.

Compulsórios – A elevação dos depósitos compulsórios também pode influenciar a decisão do colegiado, na medida em que uma queda dos juros poderia compensar essa medida. Mesmo que isso ocorra, o economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial, diz que o varejo sairá perdendo, já que a redução do dinheiro em circulação, através do aumento do compulsório, deverá reduzir os prazos de empréstimos nos bancos.

Adriana Gavaça