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Prejuízo do pequeno investidor é maior

Guarulhos, 05 de junho de 2002

A maior parte das perdas com o ajuste dos fundos de investimento pode ter atingido principalmente o bolso dos pequenos e médios investidores. Ao fixar em fevereiro um prazo de sete meses para que os bancos atualizassem o valor dos títulos que compõem suas carteiras, o Banco Central criou uma brecha para que os grandes investidores – que acompanham no dia a dia o humor do mercado – não só minimizassem eventuais prejuízos, mas também aferissem ganhos.

Para isso, bastava pedir o resgate de parte da aplicação ainda com base em cotas valorizadas (com os títulos precificados por seu valor de face, e não de mercado), prejudicando os que ficaram com recursos nos fundos. O resgate seria direcionado a um fundo já atualizado, livre de oscilações, ou a outros ativos. “Criaram-se duas classes de investidores. Quem soube antes, fugiu do prejuízo. O melhor teria sido impor a mudança de uma só vez”, afirmou o consultor Alberto Borges Matias, da ABM Consulting.

Maior administrador de fundos do País, o Banco do Brasil admite que apenas os cotistas de fundos exclusivos passaram a discutir com o banco formas de preservar suas carteiras. Esses investidores não são muitos, mas detêm mais de R$ 20 bilhões dos R$ 48 bilhões administrados pelo BB só em renda fixa e DI. De acordo com o diretor-executivo da BBDTVM (gestora dos fundos), Arnaldo Vollet, isso aconteceu porque a própria circular que definiu o prazo de ajuste deu aos grandes investidores (titulares de fundos exclusivos) a opção de migrar ou não para o modelo de marcação de mercado.

Os títulos públicos do governo com vencimento a partir de 2003 continuam sofrendo forte desvalorização. Se esse movimento persistir, os fundos de investimento poderão sofrer mais prejuízos no futuro. O temor de analistas é que mais perdas de rentabilidade poderão intensificar o movimento de saques, levando a uma crise sistêmica no mercado. Até sexta-feira, os saques nos fundos DI e de renda fixa superaram os resgates em mais de R$ 1 bilhão, segundo operadores do mercado. De acordo com eles, os saques continuaram nos dois últimos dias.